domingo, 28 de dezembro de 2008

Para viver um grande amor

Os anos 90 foram os anos em que Barrados no Baile embalava os sonhos dos jovens de viverem um grande amor e uma grande adolescência.

Dos meus amores, não posso reclamar. Foram muitos, bastante diversos e mobilizaram em mim várias coisas bacanas. Esse post, ainda que talvez excessivamente sintético, é um tributo à participação de cada um deles (pelo menos dos mais importantes) na minha vida.

- Do namorado modelo, agradeço o despertar.
- Do namorado 10 anos mais velho, agradeço primeiramente a paixão. Agradeço igualmente a clareza e a honestidade infinitas.
- Do namorado ultimoanista, agradeço a proteção e a oportunidade de me ver cantora por um dia.
- Do namorado amigo-de-infância, agradeço aquelas férias.
- Do namorado poeta, agradeço a intensidade e os poemas publicados.
- Do namorado bucólico, agradeço a leveza e a liberdade que conquistei.
- Do namorado maluco-beleza, agradeço a energia e os sustos resultantes das frases de efeito.
- Do namorado comediante, agradeço as muitas risadas e todo o apoio.
- Do namorado aventureiro, agradeço os dias, as noites e os horizontes.
- Do namorado carioca, agradeço a recuperação, a boa forma e a lição.
- Do namorado GV-ista, agradeço a ajudinha e o CD.
- Do namorado literato, agradeço a minha própria ousadia e as infindáveis conversas.

Do namorado marido, o namorado definitivo, agradeço o bem-estar, o aconchego, o amor e a coragem para a tomada de grandes decisões.

sábado, 27 de dezembro de 2008

A escolha profissional

Nos anos 90 já estava a todo vapor a disseminação da ideologia pró-globalização. As pressões por competência, informação, produtividade, mobilidade (...) eram constantes. O fantasma do desemprego estrutural estava sempre por perto, nas reportagens praticamente diárias sobre a dificuldade de todos (e mais especialemnte dos jovens) conseguirem seu primeiro emprego.

Não passei impune por tudo isso. Não passei impune principalmente pelo que meus pais pensavam sobre tudo isso.

Não cursei o colegial regular. Não achava meu colégio suficientemente bom e, por alguma razão, não quis mudar para outro. Neguei todos. 8 ou 80. Com o apoio do meu pai.

Além da decepção com o colégio, existia o contraste entre a infelicidade da minha mãe - pessoa de humanas - e a indisfarçável empolgação do meu pai - pessoa de exatas. Comprei a idéia de que, com o pacotinho correto (o das exatas), minha vida seria boa.

Nessa época, já tinha uma grande experiência em renunciar - a ponto de não reconhecer - meus próprios desejos. Aí entra o apoio da minha mãe (na realidade, estou falando aqui do incentivo ao subterfúgio de questionar e suprimir as próprias vontades, sugerido em tantas outras ocasiões).

Em função dessa escolha, desviei da rota que me seria mais natural e vaguei insatisfeita e incompleta por aí, por muito tempo.

A questão estaria melhor resolvida se as origens do pensamento que desembocaram na escolha equivocada estivessem superados. Se as armadilhas estivessem mapeadas e não houvesse mais nenhum perigo.

Mas sei que eu ainda sou essencialmente a mesma. Com essa habilidade extrema de me esconder de mim mesma para não deixar vir à tona que, na verdade, eu preferiria mesmo era tomar o caminho mais arriscado.

Sou assim e é isso que me deixa triste.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Interditada

Está rolando um bloqueio para escrever sobre os anos 90. Década de muitos assuntos privados e algumas escolhas erradas que eu não estou querendo revisitar...

domingo, 21 de dezembro de 2008

A melhor redação que escrevi na vida

Chico Buarque lançou seu primeiro livro, Estorvo, no início dos anos 90. E foi no início dos anos 90 que recebi os maiores incentivos para escrever. A maior entusiasta da minha carreira como escritora mirim foi a professora Dora.

Me lembro que como ela ficou inconsolável quando decidi sair da escola na 8ª série para entrar no curso técnico de Automação da Manufatura. "Você não vai escrever mais nenhuma redaçãozinha?" foi a única frase que ela conseguiu dizer. E tinha toda a razão.

A Dora pediu uma vez pra gente escrever uma descrição de um professor. Alguns dias antes, eu tinha usado um adjunto adverbial muito bem colocado (certamente por influência da "Tabacaria", de Fernando Pessoa) num outro texto. Recebi um mega elogio dela! Com a solicitação da descrição de um professor, identifiquei imediatamente a grande chance e pus minhas mãos à obra.

O texto que escrevi utilizava basicamente adjuntos adverbiais e adjetivos, todos em relação de oposição entre si. Terminava com "matematicamente metafórico, simplesmente complexo, comprovadamente humano". Reli o texto com a certeza de que aquela tarde procurando sinônimos e antônimos no dicionário tinha valido a pena. O texto tinha estilo, ritmo, força. Eu me sentia a própria herdeira do legado de Chico Buarque, para dizer o mínimo.

Alguns dias depois a Dora me chamou pra conversar e perguntou como foi o processo de escrita da redação. Contei toda a empreitada, ela agradeceu a explicação e, alguns dias depois, chegou a minha nota. Eu tinha tirado B.

Li muitas vezes a justificativa que acompanhava o B até conseguir entender o que tinha acontecido. Ela dizia que o objetivo não era que nós fizéssemos um texto construído, artificial. Como se os grandes escritores não trabalhassem muito em seus textos antes de serem publicados! Vai entender...

O mais legal de tudo foi que isso não abalou em nada minha confiança no meu texto, como seria de se esperar de mim. Apenas entendi naquele momento que critérios são critérios e que gosto não se discute. Segui feliz com a minha vida (e com meu texto).

Convicção é algo que realmente devemos praticar em tudo o que fizermos. Vive-se muito melhor quando se conta com ela.

sábado, 20 de dezembro de 2008

O irmão da Bia

Nos anos 90 foi lançado o Moving Sound, da Phillips. Não há quem não se lembre do cara no comercial tomando banho, com seu som em formato triangular preso no box tocando "Pump Up the Jam".

Eu voltava pra casa de ônibus escolar naquela época. Tinha um cara muito chato, irmão mais velho de uma menina que era fresca (ou seja, só um pouco menos chata do que ele), que voltava no ônibus com a gente. Eu odiava esse menino. Ele não respeitava nada nem ninguém, enchia demais o saco do meu irmão e era feio e nojento e tudo de ruim.

Mas um dia ele dançou o "Pump up the Jam" no ônibus e eu tive que dar o braço a torcer: nunca tinha visto um menino dançar tão gostoso alguma música assim. Em geral os meninos eram desajeitados.

Demorei um pouco para aceitar que alguém que eu detestava tanto pudesse fazer alguma coisa que eu admirasse.

Talvez essa tenha sido minha experiência mais marcante de superação do maniqueísmo infantil.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Cartas de amor e desamor

Nos anos 90 aconteceu a popularização do e-mail. Mas eu ainda escrevi muitas cartas antes do e-mail efetivamente ter um impacto na minha vida.

A sensação de receber cartas é incomparavelmente mais interessante do que a de receber e-mails. Especialmente as cartas de amor.

Cartas vêm escritas na letra da pessoa, muitas vezes borrifada com o perfume da pessoa e nunca escrita secamente, até porque escrever e postar cartas exige um esforço e, portanto, um envolvimento e uma intenção maior por parte do remetente de ver a mensagem chegar a seu destino.

Escrevi algumas cartas de amor para o meu primeiro namorado, um homem lindo e alto e cheio de histórias interessantes pra contar.

A história da conquista desse primeiro namoro é bem bonita. Teve direito a olhares, disputa entre amigos pelo amor da donzela, rosa roubada com recado nas folhas, aquela pontinha de ciúmes ao vê-lo abraçado com outras modelos na sessão de moda da revista Querida.

Infelizmente, o moço escreveu casal com "u" numa carta que me enviou. Acredite se quiser: aquilo foi demais pra mim. Óbvio que ele nunca soube que este foi o verdadeiro motivo da coisa mais cruel que fiz em toda minha vida: terminei um namoro à distância de 6 meses, por telefone, depois de 4 meses na base das correspondências. Lembro que fiz isso para não correr o risco de me encantar por ele mais uma vez e não ter coragem de levar a cabo minha decisão.

Óbvio que, se tivesse a cabeça de hoje, eu teria feito tudo diferente.

Antonio Caetano Cintra Neto, se um dia você procurar seu nome no Google e cair aqui, saiba que eu lamento profundamente pelo que aconteceu. Você era uma pessoa muito bacana, de verdade, não merecia isso. Espero que hoje você seja/esteja feliz.

Meu marido tem o palpite de que, se tivermos a chance de conversar com quem nos traumatizou, nos surpreenderemos ao perceber que esta pessoa talvez nem se lembre do que fez - tão preocupada que terá estado em cuidar de seus próprios traumas, causados por outras pessoas.

Ou talvez se lembre perfeitamente, mas revele que não tinha um único bom motivo pra fazer o que fez.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Depois daquela noite no Clube Ipê

A década de 90 é marcada pelo aumento de casos de AIDS. Nos anos 90 morreu Renato Russo. Freddie Mercury também. Cazuza tinha morrido no final dos 80, mas eu era pequena demais pra perceber a sua ausência.

Minha madrinha, que era atriz, era tão preocupada com a doença (possivelmente tinha muitos amigos e conhecidos infectados) que antecipou muitas das conversas sobre sexo, camisinha, auto-preservação, que eu fatalmente viria a ter com os adultos.

Aliás, pensando bem, essa minha madrinha sempre antecipava as coisas. Eu devo ter ganho meu primeiro absorvente aos 8 anos de idade, pois ela ganhou um kit da Johnsons e Johnsons que continha vários livrinhos, incluindo "Como falar sobre sexo com minha filha" e me deu. Vamos combinar que estava um pouco cedo para eu pensar nisso.

Sexo eu já sabia que existia desde beeeem cedo. Li aquele livro "De onde viemos?" que explicava tudo bem direitinho, ainda na infância. Mas o olhar menos "científico" para a questão eu tive pela primeira vez depois daquela noite no Clube Ipê.

Eu gostava muito de sair para as danceterias com as colegas de escola, especialmente pra poder conversar de madrugada, já no escuro, quando todas já estavam deitadas na cama. Naquele dia, a conversa se centrou na Milena discorrendo sobre suas recentes ousadias durante uma ficada com um moço. Não se tratava de nada mais do toques em locais estratégicos, mas eram suficientes para que as meninas perguntassem, abestalhadas: "E você deixou???". Ela respondia a tudo com bastante tranquilidade dizendo que sim, visto que "ele queria e ela também". A lógica me pareceu bastante razoável.

Ainda demorou um tanto para eu querer coisas semelhantes, mas a lembrança daquele raciocínio inquestionável certamente tornou tudo mais fácil, quando foi a minha vez.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Acidentes pessoais

Os anos 90 foram os anos de ouro do Vôlei. Giovanni levantava os suspiros da torcida feminina. O Tande, com seu saque Jornada nas Estrelas, levava para o infinito a esperança de vitória nos Jogos Olímpicos. E deu certo!

Enquanto isso, nas quadras do já extinto Galileu Galilei, às terças e quintas à tarde (e em todos os recreios), as meninas da 7ª série apefeiçoavam suas sofríveis habilidades no trato com a bola e com a rede. Foram jogar também em outros colégios, tendo ficado invictas na disputa de últimas colocadas em todos os torneios de que participaram.

Eu, perto daquela mulherada, até que jogava bem. Conseguia perder pouquíssimos saques, dar impulsões e fazer alguns bloqueios, dar umas boas cassetadas na bola e vê-las atingindo o solo do outro lado.

Numa dessas ocasiões - num amistoso de véspera de campeonato para o qual eu estava me preparando com afinco e, por causa dele, corri para tirar meu RG - subi para um bloqueio e desci em cima do joelho de uma adversária que invadiu, estabeleceu seus exércitos e começou a pagar IPTU do nosso lado da quadra. Meu pé ireito virou no joelho dela e chegou ao chão em posição de romper todos os seus ligamentos laterais. Quando acordei já estava na sala da coordenação, com o pé enterrado embaixo de uma montanha de gelo.

Ali soube que a Alice, a professora de educação física, tinha me carregado de cavalinho durante todo o trajeto - que incluia uma exibição especial no pátio onde acontecia o recreio do colegial. Um vexame de grandes proporções para uma menina de 13 anos. Rezava para que o Fernando do 2ºB estivesse bem distraído nessa hora.

O episódio me rendeu: 3 meses de imobilização, 2 de fisioterapia, diversas radiografias que integraram as palestras de um dos maiores especialistas em tornozelos de São Paulo, além da volta para a escola apoiada uma bengala feita de segmentos de cabo de vassoura - mais um dos projetos do meu pai. Uma boa alma nos emprestou uma muleta de verdade alguns dias depois.

Bed of Roses, do Bon Jovi, era, naquele momento dos anos 90, um grande sucesso. Ironicamente, foi a trilha sonora desse tempo que passei na cama. Uma cama equipada com três listas telefônicas em cada pé para que a perna ficasse num nível mais alto que a cabeça. Exatamente o que o Bon Jovi tinha em mente.

E foi assim que a menina obediente que nunca tinha se acidentado conquistou uma bela história pra contar.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O primeiro beijo

Meu primeiro beijo aconteceu no condomínio do meu tio, depois de um moço chamado Luis (e apelidado Camões) ter se encantado por uma menina "de estilo" que viu jogando vôlei na quadra do prédio.

O "estilo" a que ele se referia era o prenúncio do grunge, movimento da música e da moda que aconteceu poucos anos depois, em meados dos anos 90. Calça de moleton trazida à força até a altura dos joelhos, camiseta mais-larga-impossível para tirar qualquer vestígio de curva que pudesse ainda estar sugerida, cabelo amarrado de qualquer jeito num rabo de cavalo preso com elástico feito de meia fina.

Paquera durante o jogo, telefonemas durante toda a semana, "love of my life" tocada no violão do outro lado da linha e a certeza de ser única, diferente de todas as outras do universo.

Uma vez que estava "amando e sendo amada", cheguei à conclusao de que precisava ser menos negligente com meu visual. Fiz uma série de pequenos ajustes que estavam ao meu alcance e lá estava eu na semana seguinte, toda bonitinha, para emprestar um livro que ele nunca leria (nem devolveria).

O que aconteceu foi que o moço não encontrou a pessoa única que ele tinha idealizado quando me viu pela primeira vez. E eu desperdicei meu primeiro beijo com alguém que já estava visivelmente decepcionado com a pessoa que encontrou depois de uma semana.

Daí pra frente tive a certeza de que o melhor que temos a fazer em se tratando de relacionamentos é nos mostrar como somos, sempre.

E torcer para que o que somos tenha liga com o que o outro é.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Namorinho de portão

Os anos 90 já eram frenéticos, São Paulo já era enorme, mas eu tive a oportunidade de experimentar o "namorinho de portão" em outras cidades. Na verdade, dois: um em Osasco, outro em Ribeirão Preto.

O de Osasco foi sem graça. Muita pressão das amigas mais velhas e excessivamente urbanas. O moço era bonito, mas a sensação era infinita de não estar preparada para beijo nenhum, tentando explicar isso pras pessoas e só recebendo em retorno chantagens e um certo olhar de tédio. Ainda bem que o primeiro beijo ficou pra uma outra ocasião.

Já o de Ribeirão, foi bem gostoso. Ainda não foi dessa vez o beijo, mas valeram as conversas bobas à luz da lua, a lerdeza característica dos tímidos, o tempo que não passava para a gente se admirar melhor, o pensamento longo, a sonoridade bonita da palavra "ele".

E só.

domingo, 14 de dezembro de 2008

O preço da cantina

Apesar de entender menos sobre política e economia, eu me sentia mais ativa para interferir nessas questões do meu microcosmo, nos anos 90.

Nos anos 90, o McDonald's era o mais forte, quase exclusivo, negócio de fast food no Brasil. Ir ao McDonald's era programa resevado para dias especiais, na minha vida. Foi motivo de muita revolta descobrir que o preço do hamburguer da cantina da escola estava mais alto do que o preço pago no McDonald's pela mesma iguaria.

Organizei um movimento típico de Speaker's Corner, em Londres, em que pessoas comuns sobem em seus banquinhos e fazem seus discursos livremente para a multidão ouvir. Pesquisei todos os custos de um negócio como o McDonald's - valor do aluguel em shoppings, taxas de franquia, marketing, reforma... - e montei numa cartolina minha argumentação de ataque. Por uns 3 dias levei minha cartolina para a frente da cantina e falei com atendentes e clientes sobre o absurdo do preço do hamburguer. Até que o preço baixou.

Sei que conquistei a antipatia de muita gente com aquela petulância. Mas me sentia amparada pela democracia e dona de um orgulho infinito por mim mesma. Especialmente porque não foi fácil reunir coragem para começar com a falação. A cartolina voltou umas três vezes pra casa antes da primeira frase sair. Superação.

Segui pela vida com essa autovalorizada braveza por bastante tempo ainda. Só muito depois fui percebendo que outras estratégias também eram possíveis e algumas vezes até mais eficazes.

Ainda não cheguei ao ponto de entender completamente (e de atuar segundo) aquela frase do Mauro, meu facilitador de dinâmicas dos grupos, que uma vez disse para um colega: "fala pra ela [no caso, a mãe dele] que o afeto também é revolucionário".

Ainda sou guerreira. Mas agora um pouco mais macia, um pouco mais diplomática, um pouco mais política, um pouco mais em dúvida sobre se isso não é, também, ser um pouco mais passiva.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Guerra Fria

Nos anos 90 aconteceu o colapso da União Soviética (o muro de Berlim caiu em 1989) e o fim da Guerra Fria. Discutíamos o comunismo nas aulas de geografia e eu tinha um colega comunista bem bonitinho, o Fred, que era amigo da Patrícia.

A Patrícia teve um filho aos 13 anos - e eu a achava extremamente madura. Ter opinião forte e namorar um cara muito mais velho é, para a gente, numa certa época, sinônimo de maturidade.

Outros colegas eram de esquerda, gostavam de reagge, mas a maioria era de mauricinhos do Morumbi (felizmente, nessa época, os papos sobre calças da M.Officer, camisetas da Pakalolo e viagens para a Disney tinham ficado para trás...)

Entre comunistas e mauricinhos do Galileu, não havia guerra fria, só ideologia. A gente não sacava essa história de poder, hegemonia, apesar do professor de geografia falar muito nessas coisas (ele chamava Maurício, um mestiço de japonês alto, bonito, que me dava vários pontos positivos por participação) . Voltando ao mundo, para a gente ele era simples, só uma questão de entender, optar, convencer as demais pessoas de que uma determinada opção era a melhor. Era certo que o mundo tinha jeito.

Hoje ainda acho que tem jeito, mas creio que precisaremos passar por algumas gerações/encarnações de aperfeiçoamento.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

O momento do "click"

A pré-adolescência e adolescência é um período realmente confuso. Especialmente no caso de uma pessoa razoável.

Nesse momento da vida, Você começa a desconfiar firmemente que "ser você" é diferente de "ser filho de seus pais". Viveu toda sua vida equivocado e agora você tem duas opções:
1) radicalizar, afirmando que "para ser você mesmo, de agora em diante, não pode mais ser filho dos seus pais" - o que é evidentemente ridículo e contrário às leis da natureza; e
2) tentar encontrar, naquele mar de coisas que seus pais te deram, aquelas que já estavam com você, desde o princípio.

Pessoas razoáveis escolhem o segundo caminho. E isso, meus amigos, é bem pior que encontrar agulha no palheiro (ao procurar agulhas você sabe que formato, temperatura e brilho elas têm). De forma que considero ter saído da adolescência apenas em 2003, aos 24 anos (meu consolo é que muita gente morre velhinha, sem ter superado essa fase).

Os próximos posts contém um pouco da história dessa busca. Os pais, que povoaram boa parte das histórias dos anos 80, cedem lugar a outros personagens, nos anos 90.

No início dos 90, quem começou a me colocar no caminho da "minha verdade" não foi uma pessoa, mas uma revista - que já não existe mais, infelizmente. O nome era Querida, uma revista para meninas adolescentes, de muitas páginas (tinha até lombada), que discutia assuntos de gente jovem, contando com o ponto de vista de gente jovem que quer se entender, além de contrapontos oferecidos por psicólogos e, mais raramente, filósofos e sociólogos. Uma revista realmente diferenciada.

Não sei se a gente escolhe a revista ou a revista nos escolhe, mas sei que cresci muito com as reflexões que ela me proporcionou.

Pena que não consegui fazer o mesmo por ela (como se isso fosse possível...). Pena que minha(s) filha(s) não terão o mesmo benefício.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Fim da década de 80

E eis que termina o período destinado a falar sobre os anos 80 nesse blog. Amanhã, dia do aniversário do meu pai, começa o mês prometido para a década de 90.

Da lista de posts que eu pretendia desenvolver, faltou apenas aqueles sobre:
- termos ganho o prêmio originalidade num campeonato de pipas da escola do meu irmão;
- minha mãe ser uma guerreira e meu pai e eu irmos buscar ela no ponto de ônibus tarde da noite, voltando do trabalho, com meu irmão na barriga;
- eu muitas vezes gostar mais de acompanhar o jogo de buraco dos adultos do que as brincadeiras das crianças;
- uma pêra ter sido a fruta mais gostosa que já comi na minha vida;
- eu ter tido o privilégio de ter uma coleção de disquinhos de histórias da melhor qualidade, musicado pelos grandes ídolos da MPB;
- eu ter participado de rodas de cantoria em muitos churrascos que aconteceram aqui em casa e em reuniões na casa da minha madrinha;
- eu ter passado muita vergonha com essa mesma minha madrinha que dançava comigo no meio dos shoppings (ela era atriz) e assim ter me acostumado a não ter tanto medo da exposição e do ridículo.

Fica a lista registrada. Quem sabe eu não preencho aquelas datas que ficaram vagas em novembro e início de dezembro, em algum outro momento (sim, descobrir essa funcionalidade no blogger foi libertador!).

Por ora, passo para uma nova fase: posts sobre a pré-adolescência e adolescência. Vamos ver como isso se dará.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Água

Acredito que meus descendentes lerão o post abaixo com a mesma incredulidade que experimentamos quando pessoas nos dizem que nadavam no Rio Tietê.

Tenho certeza que as gerações vindouras não terão a mesma felicidade que eu tive nos anos 80, época em que meu contato com a água era muito mais frequente, duradouro e aproveitado.

Por exemplo... eu e minhas primas inventamos o "banho de caneca": uma de nós agachava e a outra, depois de encher a leiteira até a boca, avisava a outra para que prendesse a respiração e, em seguida, despejava aquele montaréu de água caudalosa de sua cabeça. Havia uma velocidade certa que tornava tudo mais delicioso: nem tão rápido que a água não descesse como uma carícia, nem tão devagar se não deixasse o cabelo bem liso enquanto escorria. Era uma curtição.

Regar as plantas do quintal também era uma tarefa que eu gostava de realizar. Como a mangueira era curta, eu tinha que diminuir a abertura para aumentar a pressão e encontrar a inclinação correta para que a água alcançasse as plantas mais distantes. Me divertia com os desenhos que a água formava ao sair da mangueira. Gostava também quando conseguia produzir uma atmosfera toda respingada e formava arco-irís bem ao alcance da minha mão.

Gostava de lavar carro e banheiro, de escorregar nos azulejos cheios de sabão, de molhar toda a roupa num dia de sol.

Também tomava muito banho de banheira. Quando era bem pequena, usava o espaldar como escorregador e, na queda, espalhava água no banheiro inteiro. Quando maior, ficava horas submersa, jogando a cabeça de um lado pra outro, fazendo os cabelos mexerem gostoso com o couro cabeludo. A água tão quentinha ia aquecendo e enrrugando a pele.

Uma vez, participei de um banho de esguicho no Gávea. Um professor de educação física ficava bem longe com uma mangueirona de bombeiro, molhando a meninada já preparada com seus trajes de banho, com autorização assinada pelos pais.

No Gávea também, num dia de muito calor, participei de uma desobediência coletiva em que toda a 4ª série invadiu os banheiros dos funcionários, se encharcou de água fria e saiu pingando pelos corredores de tapetes verdes daquela área restrita destinada ao pessoal da administração.

Naquele dia eu realmente não entendi nada. Sempre fui uma menina exemplar, obediente, que evitava broncas a todo custo. Relutei em participar da farra, mas o calor estava demais. Quando fomos descobertos, me arrependi, fiquei precupada, pensei que fosse perder a bolsa de estudos, tudo de ruim.

Mas o que aconteceu foi que os adultos se preocuparam muito mais com a nossa saúde do que com o tapete. Arrumaram toalhas e uniformes sequinhos pra gente vestir, foram atenciosos e amáveis.

Deve ser o poder da água na minha vida, que transmuta tudo o que há de ruim e devolve em tudo que há de bom.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Avareza

A minha infância nunca foi repleta de brinquedos caros.

O piano citado anteriormente - em que eu supostamente deveria treinar - era emprestado e tinha um monte de teclas desencapadas (da época em que o coitado ficou encostado na marcenaria do dono que, por sua vez, herdou aquela coisa e nunca soube o que fazer com ela).

Com meu irmão, brincava de parque de diversões. Eu era "dona" de uma parte dos brinquedos e ele, de outra. O brinquedo mais disputado era o ônibus leito. Consistia em deitar num pedação de carpete (de forro, pra ser mais exata) e ser puxado em alta velocidade pela extensão da sala vazia (sim, quase não existiam móveis na sala naquela época).

Para brincar de casinha em dias de chuva, eu envergava um colchão e o colocava entre os batentes da porta (percebam a qualidade dos colchões de que dispunhamos naquele tempo). Parecia mais um iglu do que uma casinha.

Se tive muitas figurinhas, foi por ter conseguido rapelar tantas. Devo ter comprado uns 3 ou 4 envelopinhos em toda minha vida.

De forma que, no dia em que ganhei uma caixa de lápis de cor de 36 cores, ela se tornou a preciosidade da minha existência. Guardava num lugar secreto, tinha ciúmes, passava muito tempo ensaiando combinações de cores que nunca passavam para o papel, para não gastar.

Isso eu devo à minha avó. Guardar sempre as melhores coisas para estarem disponíveis nesse tempo que não existe e nunca existirá: o futuro. Assim me neguei muitos deleites na infância e na adolescência. Assim deixei de colorir muitos dos meus dias. Assim, assim.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Eu, bebê.

Existem memórias que nao são nossas, mas acabam integrando nossa história como se fossem. É o caso do "dia em que a família inteira passou mal".

Meu pai conta que foram todos comer num restaurante e a comida estava estragada. Eu me salvei pois só comia papinha naquela época. Até hoje ele se admira de naquele dia - eu tinha 1 ou 2 anos - eu parecer ter percebido que algo não ia bem com as pessoas. Não amolei em momento algum. Fiquei a tarde inteira brincado sozinha, quietinha, com meus brinquedos.

Também ele contava que eu praticamente nasci de olho aberto e saí da maternidade já querendo comer o mundo com os olhos.

O fato de meu pai ter me contado essas e outras histórias sobre mim me fez ter uma imagem sobrenatural, extraordinária, de mim mesma bebê.

Há alguns meses meu pai transformou uns filmes super 8, que estávam há muito tempo guardados sem termos forma de asistir, em DVD. Foi muito estranho ver meus gestos, meus interesses, meus movimentos, minhas birras. Elas eram típicas de um bebê como qualquer outro. Eu não era mais brilhante que ninguém, afinal!

A corujisse de um pai, essa sim, pode ser extraordinária, brilhante, sobrenatural.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Palavras de criança

Aproveitando o post anterior sobre palavras escritas, vale a pena escrever sobre memórias envolvendo minhas palavras faladas.

Uma das primeiras coisas que minha mãe me ensinou a falar foi meu número de telefone. Imaginem um toquinho de gente falando "869-2165". O plano ela era que, caso a gente se perdesse, quem achasse pudesse ligar em casa. Foi exatamente isso que eu fiz quando me perdi no CEASA. Lembro vagamente de algumas cenas desse dia.

Outra coisa que minha avó sempre se lembra é que eu e meu irmão nem ligávamos quando algum brinquedo quebrava. A gente falava "papai conseita" e continuava brincando com alguma outra coisa até meu pai chegar do trabalho.

Eu chamava bolacha de "Pa-ti-tum". Ninguém sabe muito bem de onde eu tirei essa palavra, mas desconfio que essa é a onomatopéia referente ao barulho que o maxilar do meu pai faz quando ele come alguma coisa crocante.

Agora, a história mais engraçada envolvendo coisas que eu falei (e que minha tia não me deixa esquecer) e aconteceu quando eu estava mais grandinha, falando frases mais completas.

Foi assim:

Meu pai e meu tio deram pra comentar sobre os atributos femininos traseiros, comparando-os ao formato das frutas. Cometeram o erro primário cometido por todos os adultos em algum momento: o de considerar que a criança não está prestando atenção na conversa ou que, caso esteja, nunca fará nada com as informações obtidas.

Pois bem: aquele ano era o ano em que o fio dental estava sendo lançado. E eis que uma das pioneiras passou ao lado do meu baldinho de areia e, voila!, o formato era exatamente o formato da pêra! Saí em disparada pela praia atrás do meu pai gritando: "Pai, olha a bunda que você gosta!". Minha tia ri até hoje das caras enverganhadíssimas do meu pai e da moça (que no final das contas deve ter achado uma péssima idéia ter comprado aquele biquini diferente).

Eu só me lembro da minha sincera preocupação em fazer com que meu pai entendesse o que eu estava dizendo (ele estranhamente parecia não estar me ouvindo, apesar de eu estar falando bem alto).

Esse episódio talvez tenha sido a minha porta de entrada para o mundo dos adultos, no sentido de entender um pouco melhor os conceitos de público e privado nas comunicações, especialmente quando o assunto envolve sexo.

Freud explica, mas explica sempre atrasado e nunca para crianças.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Livros infantis

Os anos 80 foram repletos de palavras. Houve, no Brasil, um boom na literatura infanto-juvenil, impulsionada pela priorização dada à formação de leitores e embalada pelo discurso de redemocratização do país.

Minha mãe nunca me deu livros para ler sem que ela própria lesse um por um até aprovar a qualidade e os "ensinamentos" que as histórias traziam em seu bojo.

Contos de fadas tradicionais, por exemplo, eu conheci fora de casa. Minha mãe nunca quis que eu me educasse para esperar ser salva por um príncipe encantado, nem que eu acreditasse que pessoas eram sempre boas ou sempre más, nem que eu tivesse a ilusão de que ser bela me resolveria todos os problemas.

Alguns livros que eu li quando pequena guardo até hoje por serem realmente de grande significado para mim.

"Pequenininha" é um deles. Conta a história de uma menina que passa um dia na casa da avó e descobre um quarto de coisas antigas. É narrado por uma pessoa adulta - provavelmente o pai da Maia - que fica matutando na sua vontade de guardar a menina no bolso. No final, ele acaba concluindo que se fizesse isso, ela nunca iria perdoá-o por ter deixar de viver tantas aventuras.

"Procurando firme" é a história de uma princesa muito geniosa, chamada Linda Flor, que não gostava dos príncipes que apareciam para salvá-la, que ficava com vontade de fazer os cursos que o irmão fazia para correr o mundo (ao invés dos que ela fazia para ser prendada) e um dia deu um susto em todo mundo quando decidiu colocar seus planos em prática. Saiu "procurando não sei o quê, mas procurando firme!"

Um outro que eu gosto bastante é do "Nicolau teve uma idéia", sobre um homem que ia falando com as pessoas e ia aumentando seu repertório de idéias. Gostava do conceito, mas pra dizer a verdade, nem me lembro muito bem de como terminava.

Esses livros me ensinaram que mais legal é ser pró-ativo, se lançar, ir descobrindo coisas e ir se descobrindo no caminho. Que é legal refletir e ter memórias. Que tendo as perguntas, algum dia a gente chega nas respostas.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Música na televisão

Nos anos 80, a TV nos trouxe muitas coisas interessantes. Outras nem tanto, mas de não menor influência. E aqui vou me deter sobre as músicas que conheci por meio da telinha.

Começando pela parte de gosto discutível, os anos 80 foram repletos de Menudos e Dominós. Eu, como todas as meninas da época, tinha meu integrante preferido. Em geral eu não escolhia o preferido da maioria e me sentia muito autêntica por isso. E seguia repetindo roboticamente os sempre mesmos passos das dancinhas...

Uma vez meu pai flagrou eu e minhas primas ensaiando um show que apresentaríamos para os adultos. O ponto alto do espetáculo seria uma exibição inédita da coreografia da música "Não se reprima". Pra quem se lembra, tratava-se de uma sequência frenética de exercícios de bíceps/tríceps entremeados por giros bobos ao redor de si mesmo. Nada faria mais sentido. Pois bem, antes que pudéssemos apresentar a obra, meu pai mobilizou minha mãe e meus tios para ELES apresentarem um show para nós. Até hoje me lembro como era engraçado ver aqueles adultos nos imitando, exagerando movimentos, parecendo verdadeiros débeis mentais. Surtiu o efeito desejado! Eles se livraram de ter que falar que aquela porcaria que estávamos ensaiando era "linda!" e fomos obrigadas a exercitar o senso crítico a partir daí.

Também foi pela televisão que eu conheci, e gravei, um show da Madonna dos áureos tempos. Era um show em que ela cantava "Like a Virgin" com um vestido rodado azul claro, "La Isla Bonita" com uma roupa de espanhola vermelhíssima, uma outra música que esqueci com aquele espartilho creme de peitos em formato de cone. Esse show me despertou a paixão pelos figurinos.

Mas a coisa que eu mais gosto de lembrar (e rever) é uma série de shows televisionados que passavam após o horário da novela, em que Chico Buarque e Caetano Veloso traziam convidados para cantar com eles. Era tão bonito aquilo! Era tão rico de vozes e letras e temas e superações! Esses shows definiram meu gosto musical durante muito tempo. Ainda mais pela visível amizade que permeava aquelas pessoas e aquelas letras que muitas vezes eu custava a entender...

Nos anos 80, assim como é hoje e será sempre, as crianças têm acesso a infernos e maravilhas pela TV (hoje também pela internet). Faz parte da missão educá-las para ver e para fazer escolhas.

Escolhas bem feitas fazem um bem enorme para o coração.

domingo, 30 de novembro de 2008

Cartas, notícias e negociações

Nos anos 80, a carta, escrita de próprio punho, era a forma escolhida para mandar notícias de menor urgência para parentes e amigos distantes. As notícias de urgência mediana iam por telefone, após as 20h00, quando a tarifa era mais barata. Se a notícia era urgente mesmo, ligava-se na hora.

Notícias de uma menina de 7 anos para primas de 9 e 11 anos em geral não eram consideradas urgentes. Falávamos sobre a escola, sobre os passeios que tínhamos feito, sobre as brincadeiras, sobre os doces que tínhamos comido.

Escrevíamos cartas e tínhamos coleções de papéis de carta. Passávamos muitas horas de nossas pequenas vidas admirando a beleza de cada um dos retângulos tamanho A5 impressos. E outras muitas horas alterando a ordem da pasta para uma exibição perfeita (talvez venha daí minha mania de editar albuns de fotografia...)

Quando me lembro da minha coleção, imediatamente me vem à cabeça três episódios: o do papel de carta mais feio do mundo, o do papel de carta do apontador de arco-íris e o do papel de carta do coelhinho.

O papel de carta mais feio do mundo foi um bloco que minha mãe uma vez trouxe para mim com 20 exemplares em que figurava uma menina comum, de cara um pouco quadrada, um tanto desarrumada pelo vento, em vermelho e sépia. Ela veio toda feliz, achando o papel de carta lindo. Naquele dia descobri que gosto não se discute.

O papel de carta do apontador de arco-íris era, este sim, um dos papéis de carta mais lindos do mundo. Que eu troquei com uma menina sem ter um repetido por causa de uma chantagem. Me arrependi amargamente, rodei o mundo atrás do mesmo papel de carta para comprar ou para trocar, sem sucesso. Naquele dia descobri que é preciso saber se defender das manipulações.

O papel de carta do coelhinho era muito interessante, diferente dos outros. Não era desenho, era como se fosse uma foto, mas num estilo de filme antigo. Esse eu ainda devo ter, se alguém quiser ver. Pois esse papel de carta foi um que a pessoa que trocou comigo se arrependeu e veio me pedir pra destrocar. Tive uma empatia enorme pelo problema da pessoa, mas não cedi. Naquele dia tive orgulho de mim pois soube defender meus interesses e não ser "boazinha" como eu sempre era, na expectativa de receber uma migalha de amizade em retorno.

E de tudo ficou um grande aprendizado: quanto mais a criança interage, dentro das dimensões de seu mundo, mais preparada ela estará para lidar com as interações, quando ela e os limites de seu mundo ficarem maiores.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Trajetos e destinos

Nos anos 80 ainda não havia acontecido a grande abertura promovida por Fernando Collor de Mello que, apesar de toda a bagunça que fez com a ajuda de Zélia Cardoso, Cabral e companhia (assunto para posts do próximo mês), tinha certa razão a respeito de nossos carros serem carroças.

Peguei uma lista de carros dos anos 80 num blog alheio para nos lembrarmos de quem povoava nossas ruas, naquela época: Fiat 147, Brasília, Corcel, Fusca, Belina, Chevette, Passat, Variant, Opala, Maverick, Landau, Galaxie, Caravan, Gol, Voyage, Parati, Saveiro, Santana, Quantum, Del Rey, Pampa, Escort, Spazio, Oggi, Panorama, Uno, Prêmio, Elba, Fiorino, Marajó, Monza, Chevy 500, Kadett, etc.

Lá pela minha garagem passaram: uma Panorama 1979, da qual eu gostava porque tinha nascido junto comigo; uma Belina de placa 1910, que eu gostava porque era o ano em que meu avô nasceu; um Fusca verde, que eu gostava porque era do meu outro avô e a gente achava bem engraçado que ele buzinava em todas as esquinas; um Gol que ficou pouco tempo, logo substituído por um Voyage num negócio memorável para toda a família, envolvendo uma linha telefônica que subiu demais de preço (!?!?!?) e nos deixou numa sinuca desgraçada; e, finalmente, um Prêmio que ficou pra mim quando aprendi a dirigir (chegando à minha mão, acreditem se quiser, com 180.000 quilômetros rodados).

Me concentrando na parte que se refere aos anos 80, carros fizeram parte da minha vida principalmente para me levarem à escola, em esquema de rodízio com os filhos de uma amiga da minha mãe. Sempre estudamos bem longe de casa. Minha mãe, como excelente professora que era, nos colocou em colégios ótimos, mais caros do que podíamos pagar e bem distantes de onde morávamos. E era durante essas viagens que tínhamos as maiores oportunidades de conversar com nossos pais - coisa que eles também sabiam e aproveitavam pra valer.

Na volta pra casa, meu pai nos ensinou a nos perdermos pela cidade. Isso mesmo. Lá pelas tantas ele perguntava pra criançada: "Vamos se perder?". A torcida ia ao delírio!!! Passávamos por lugares nunca antes navegados. Eu adorava, especialmente quando era sexta-feira, dia do meu Piano. Guardava sempre aquela esperança íntima de passássemos bastante tempo perdidos...

Fora isso, tinha aquela coisa que toda criança faz: ficar amigo do motorista do carro de trás, dar tchauzinho, fazer aquele "jóinha alternado com o número dois vária vezes", brincar de tiroteio e, invariavelmente, ficar triste quando o amigo vira à direita e seu carro continua em frente.

Carro é, até hoje, por esses e por outros motivos, um lugar onde eu gosto de estar. Isso independe de que carro seja. Independe de pra onde o carro vá (acontece muito de eu me sentir mais feliz nos trajetos do que nos destinos).

Estar num carro, especialmente com companhia, me dá uma agradável sensação de pertencer.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Sobreviventes

Nos anos 80, como em todas as décadas desde que o mundo é mundo, crianças não foram programadas para sobreviver. E nós não fomos diferentes.

Me lembro do dia em que meu irmão, ainda bebê, caiu de seu carrinho com a cara em cima de um cano desencapado. Foi assim que ele conquistou uma bonita cicatriz em formato de anzol que o acompanha até hoje.

É viva também a memória do sangue correndo da minha cabeça e manchando minha blusa favorita (uma miniblusa azul, da Minnie) na ocasião uma série de fatos imprevisíveis me renderam alguns pontos no alto da cabeça. Quem poderia imaginar que rolar de costas por sobre um grande tambor solto perto de um tanque de areia - este deliminado por pequenos muros de cimento - poderia resultar em qualquer tipo de acidente?

Um acidente potencial que nunca ocorreu - apesar das frequentes chances que demos - foi cairmos de uma escada que existe na casa da minha mãe direto na outra parte da escada - de uma altura que vaia de 1 a 4 metros. Era a coisa mais gostosa do mundo abraçar o murinho que servia como corrimão e ir deslizando lá de cima sem colocar os pés nos degrais!

À medida que vamos crescendo, ficamos mais previdentes, nos afastamos das situações que podem nos machucar. Talvez por irmos aos poucos construindo um repertório maior de experiências de dor (creio que isso vale também para outras dores menos tangíveis que conhecemos mais tarde na vida).

Quanto mais nos protegemos - o que equivale de uma certa forma a cultivarmos o medo - mais distantes ficamos também da deliciosa sensação de alegria que os momentos anteriores Em às possíveis fatalidades nos trazem.

Nos machucamos menos, mas nos fazemos menos felizes também. Trade offs. Faz parte do processo de deixarmos de ser crianças. Reflexo, talvez, de acreditarmos que temos mais o que perder depois de adultos.

Ou não?

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Transações

Enquanto, nos anos 80, Ronald Reagan e Margareth Tatcher traçavam a política neoliberal, eu e minha família empreendíamos como podíamos.

Meu pai inventou um aparelho, apelidado carinhosamente de canetinha, que, em contato com a pele, acendia um led vermelho ao encontrar uma terminação nervosa. Chegou a vender o aparelho para alguns médicos, recebeu encomendas de acupunturistas, foi legal. Eu ajudava a fazer soldas, acompanhava a produção das plaquinhas eletrônicas e os trabalhos de construção e utilização dos moldes em durepox.

Eu, do meu lado, também ensaiava minhas micro empresas. Uma vez inventei um "perfume de rosas". Amassetei um punhado de pétalas brancas caídas da roseira da minha avó, misturei com álcool e montei uma barraquinha no portão. Não vendi nenhuma gota da poção afrodisíaca, obviamente.

Algum tempo depois, me encantei por um envelope da minha coleção de papeis de carta. Ele tinha um corte interessante, barroco como vim a saber depois. Meu pai anunciou que me mostraria uma coisa foi abrindo o envelope completamente, cuidadosamente, inclusive naquelas partes coladas. Eu fiquei brava por ele estar estragando tamanha preciosidade, ao que ele respondeu com o tradicional "péra, péra, péra". Então ele me mostrou que, a partir daquele envelope, era possível fazer um molde para construir outros semelhantes. Fiz esse e outros, montei envelopes de várias cores, e consegui vender cerca de meia dúzia (não cobriu meu investimento inicial, mas foi bom).

Essas primeiras experiências (depois vieram outras, inclusive com CNPJ) são de alguma forma emblemáticas do que, até o momento, vem a ser meu relacionamento com os negócios. Muito envolvimento, carinho, coragem, diversão. Tino comercial que é bom...

Quem sabe um dia?

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Minha única medalha

Devem ter acontecido muitas coisas no mundo do esporte na década de 80. É claro, eu não sei precisar com certeza.

O Senna deve ter ganho muitos Grandes Prêmios. A Hortência do basquete provavelmente era uma celebridade na época. Talvez o Oscar também. Acho que o Vôlei ainda não era forte. Ou era?

Enquanto essas coisas aconteciam ou não aconteciam, eu... era sempre das últimas a serem escolhidas para os times na aula de educação física. Estamos falando daquela idade em que ser a mais alta corresponde necessariamente ser a mais estabanada. Na minha mão, a bola sempre tinha vida própria.

Só lembro de um lugar onde eu era feliz jogando bola: a Rua Bonfim, em Ribeirão Preto. Lá eu era líder de time na queimada. Para fugir da bola, eu era ótima! Parecia possuída!!! Me lembro de uma vez que saltei e abri um espacate no ar para deixar a bola passar. Foi a sensação do verão!

Em São Paulo, eu sempre ganhei medalhas que não me pertenciam (a não ser pelo pensamento positivo que eu possa, eventualmente, ter feito de lá do banco de reservas). Mas houve uma conquista na 3ª série que eu nunca vou esquecer. Foi assim:

Não havia mais ninguém, mais ninguém mesmo, que não tivesse sido escalado para outras modalidades. A regra era que todo mundo precisaria participar de, pelo menos, uma prova no campeonato. Pois bem, tive que ser a representante da classe na corrida de resistência.

Apesar de ninguém acreditar sinceramente de que daquela cartola sairia algum coelho, senti o peso da responsabilidade. Minha classe dependia de mim, numa prova individual.

Nesse dia, as torcidas ficaram dentro da quadra, enquanto nós corríamos do lado de fora do gradil. Ainda me lembro das pessoas me provocando, se reposicionando para nos ver melhor, se jogando contra a grade pra gritar qualquer coisa.

Eu larguei em último lugar e fui assim por um bom tempo. Foi bem chato quando eu, lá pelas tantas, quase morrendo, assisti a menina que estava em primeiro lugar me ultrapassar. Juliana, era o nome dela. Na minha memória, ela tinha um certo "quê" de Mick Jagger.

É claro que eu estava a um milímetro de desistir. Foi nessa hora que eu recinheci uma voz amiga que passou o restante da prova me acompanhando e me dizendo de dentro da grade: "mantenha o ritmo", "vai em frente", "respira", "a Juliana não vai aguentar por muito tempo".

E eis que, uma ou duas voltas depois, retomei com dignidade minha posição de último lugar. E logo mais, numa ultrapassagem que arrancou os gritos da torcida, fiquei à frente daquela que tinha estado em primeiro lugar durante boa parte da prova! E assim cruzei a linha de chegada.

Não conseguia acreditar! Minha turma comemorando de verdade meu segundo lugar!

Não me lembro qual foi a importância dessa pontuação para o compto geral do campeonato. Mas, para mim, isso siginificou receber a única medalha da qual eu realmente fiquei orgulhosa na vida.

Se bobear, até hoje, em momentos difíceis, quando estou prestes a desistir, ouço essa voz, no meio da gritaria, dizendo: "mantenha o ritmo", "vai em frente", "respira", "isso não vai adiante por muito tempo"...

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

15 minutos de fama

Nos anos 80, eu e meu irmão estudávamos piano.

Meu irmão, mais disciplinado, mais concentrado e tão competitivo quanto eu, fazia muito mais bonito nas audições particulares pro meu avô, patrocinador da iniciativa. todos os dias pela manhã. Eu, mais avoada e invariavelmente sem vontade de treinar, quase sempre era um desastre.

Mas havia um livro de partituras que nos fazia declarar trégua na disputa pelo reconhecimento alheio: o "Piano a quatro mãos". A divisão de tarefas era adequada: eu fazia o acompanhamento (basicamente a repetição dos acordes, dentro de um determinado ritmo) e ele se encarregava das melodias, que eram mais complicadas.

Nos anos 80 existiam poucos Shoppings em São Paulo, e nós praticamente só íamos ao Eldorado. Tomávamos lanche no Texas Burger e saíamos com um chapéu de cowboy fantástico, feito de plástico amarelo. Minha mãe sempre procurava alguma coisa pra comprar na extinta loja de departamentos "Eldorado Plaza" e reclamava dos preços, enquanto eu e meu irmão brincávamos de esconde-esconde no meio das araras.

Um belo dia, estávamos descendo as escadas rolantes e vimos um homem tocando piano na frente do Gig's. Rodeamos um pouco, nos apoiamos na lateral do instrumento, esperamos o cara terminar a música e logo perguntamos se poderíamos ocupar o lugar dele.

Fomos a sensação do shopping durante a duração do Carnaval de Veneza e d'O Bife. As pessoas que desciam as escadas rolantes se aglomeravam para nos assistir. Paramos logo porque, obviamente, meu repertório decorado se resumia a essas duas músicas.

Depois dessa época também aprendi órgão e violão, mais ou menos da mesma forma: apenas o suficiente para agradar ouvidos pouco exigentes. Cantava nos churrascos de casa, para uma platéia cativa (e cativada por princípio). Volta e meia fico com vontade de cantar numa banda, desde que ela não tenha grandes aspirações.

Só porque é charmoso ser band leader. Só porque é gostoso ser aplaudida, de vez em quando.

domingo, 23 de novembro de 2008

Primeiro amor

Nos anos 80 eu tive um amor de infância.

Daqueles que ele gosta de você quando você não gosta dele e no momento seguinte invertem-se os papéis. O nome dele era Rodrigo Mateus de Souza Campos, meu melhor amigo.

A "revelação" aconteceu num dia na 2ª série em que a professora perguntou se ele casaria com ela, quando crescesse. O Rodrigo tinha um tipo físico assim, de um futuro Raí, sabe? A professora não era boba nem nada. Mas a resposta do garoto foi não, porque "gostava de outra pessoa". Todos ficaram muito curiosos e atentos a partir daí. Até todo mundo perceber que não tinha pra ninguém. Era de mim mesmo que ele gostava.

Eu imaginava, toda vez que escutava "Quase sem querer", do Legião Urbana (e não era pouco), que era ele quem cantava a música pra mim. Durante o acantonamento, conheci a "Olhar 43", do RPM, e foi nele que pensei enquanto entendia só metade da letra.

Conversar com o Rodrigo foi importante quando meu pai viajou para o Japão. O pai dele também tinha ficado um tempinho no exterior e ele me garantiu que, apesar da saudade, o tempo passava rápido.

Também tenho certeza que ele votou em mim naquela pesquisa feita pelos jornaizinhos da 4ª série, na seção "a menina mais legal na opinião dos meninos". Ganhei com boa margem aquela pesquisa. Pena que, por algum motivo que hoje eu não consigo precisar, não achava viável passar o recreio com os meninos (isso teria me poupado um pouco do sofrimento relatado anteriormente).

Respirei aliviada quando, na festa mais legal de todos os tempos (à qual eu não fui), aconteceram muitos primeiros beijos, mas nenhum com ele.

A história, como qualquer história de amor infantil que se preze, não teve muitos desdobramentos.

Depois que a escola fechou, ele foi para o Ítaca, eu para o Galileu. Ainda o vi saindo pelo portão uma vez, quando passava de carro, voltando pra casa.

Encontrei o Rodrigo depois de muito tempo, quando fui prestar vestibular na ESPM (eu publicidade, ele administração). Nada parecido com o Raí. Depois soube que ele foi pra Ribeirão Preto. Isso é tudo.

Algumas pessoas nunca vão saber a importância que tiveram na curta vida de outras.

A não ser que, inadvertidamente, um dia digitem seu próprio nome no Google e caiam no blog de alguém que fez uma retrospectiva dos anos 80, quase vinte anos depois.

sábado, 22 de novembro de 2008

Moda e música

Os anos 80 foram anos muito divertidos.

Década das músicas mais saltitantes, das maiores irreverências, das roupas mais ridículas. Anos em que realmente não merecíamos ser levados a sério.

Usei minisaia por cima de calça, jeans semibaggy, macacão cintura alta, camisa branca com ombreira, brinco de plástico de pressão em formato de triangulo, brilhos, fosforecências... Recentemente aproveitei uns Skol Beats para fazer um revival de parte dessa liberdade anti-estética!

Ganhei uma boneca da Porcina, uma moça que trabalhou lá em casa, que era a cara dos anos 80. Roupa de ir para a balada: cabelo de lã espetado pra todos os lados, roupinha listada de prateado com preto - por cima de uma calça de ginástica - e faixa na cabeça. Fiquei bem triste quando meu pai mandou a Porcina embora porque ela saia à noite e no outro dia não conseguia acordar. Nada mais anos 80.

Naqueles anos gente da minha idade ia pros bailinhos (ou brincadeiras dançantes, para quem morava no interior). Tempo de grandes emoções, taquicardias, palpitações, quando alguém te tirava para dançar uma música lenta (muuuuuuuuuuuuito raro!). Pegar na mão era prova de amor eterno.

No playlist não podia faltar "Dancing with myself", "Karma Chameleon", "Take me to the Church on time", "You spin me round (like a record)", "Just can´t get enough", no melhor estilo "estou no mundo a passeio".

Que a irreverência dos anos 80 nos acompanhe a todos...

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Amizades

Nos anos 80, o Colégio Gávea existia.

O Gávea é uma escola que guardo com muito carinho dentro do meu coração. Reencontrei sua antiga dona numa viagem recente a Petrópolis e entendi melhor porque a escola era do jeito que era: crianças passando o recreio na sala da diretora (explorando jogos e outras coisas interessantes), aula de ouvir histórias e de cantas música dos titãs (dentro da própria grade curricular), meu poeminha sobre a Amazônia virando ficha de estudos de todos os alunos da 4ª série... Como escola, era um sonho (algo que um dia eu quero proporcionar pros meus filhos). Mas também foi palco de muitos momentos difíceis na minha vida.

Por um azar incrível, as duas pessoas que eu costumava chamar de amigas no início da minha vida eram tudo, menos amigas. Hoje sei que existe nome para o que eu vivia: bullying. Não recomendo.

Minha reação ao ser colocada continuamente "de gelo" (situação em que a regra é as pessoas agirem como se você não existisse), orientada pela voz experiente da minha mãe, foi aprender a não ligar, a viver sem precisar de amigos, a me bastar.

Sinto que, mesmo depois de passada a fase brava, nunca mais consegui incluir realmente as amizades na minha vida. Elas existem, eu adoro de paixão meus amigos, mas eles ocupam um lugar marginal na minha rotina. Isso é uma coisa que eu acho, de certa forma, triste (mas só quando paro pra pensar. Do contrário, nem percebo que isso acontece).

Aos dez anos, quando eu estava na 4ª série, quase que tudo passou a ser diferente. Por pouco. Eu me espantei de mudar de classe e tanta gente passar a me achar uma pessoa legal. Fui incluída, convidada, considerada, enturmada. Até hoje acho que aquele foi o ano mais feliz da minha vida (até pelo contraste com os anteriores).

Foi nesse ano que a escola fechou e, com ela, fechou-se também minha janela de oportunidade. As pessoas se espalharam por muitos colégios e eu, bem, não senti imediatamente o quanto tinha me ressentido.

Creio que foi desse momento como em diante que eu eu coloquei definitivamente minhas metas (meus escudos) acima dos meus sentimentos. A partir daí fiz muitas escolhas sem me dar ouvidos de fato. O que me levou pra longe de mim mesma muitas (e importantes) vezes.

Hoje me tenho mais perto. Porém com as idiossincrasias que carrego dessas andanças. Com muitas coisas ainda por equilibrar.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Construção

Minha casa foi construída com recursos do BNH (Banco Nacional da Habitação).

Antes, no terreno de 250m², comprado com a ajuda do meu avô, existia uma casa de pau a pique minúscula, cheia de buracos nas paredes.

Brinquei com meu irmão durante as várias fases de construção da casa: equilibrista na fase das fundações, Indiana Jones na fase do tijolo à vista, esconde-esconde na fase de acabamento.

O primeiro aniversário comemorado na nova casa foi o meu, aos 4 anos, ainda pisando no contrapiso. Alguns meses depois veio o inverno e, com ele, os carpetes.

Nosso quintal já sofreu muitas transformações. Houve um tempo em que tínhamos uma verdadeira fazenda em miniatura no fundo de casa: abacateiro, goiabeira, pessegueiro, pé de mixirica, limoeiro, milho, fruta do conde, canteiros com cenoura, alface, beterrada, além das ervas - salsinha, cebolinha, hortelã, alecrim, arruda, manjerição, novalgina, alfazema... - e das criação de galinhas, codornas e patos. Tínhamos também um cachorro, duas tartarugas, dois periquitos e três ramsters. Foi nessa época que a escolhinha do meu irmão promoveu uma excursão dos alunos do jardim II para a minha casa.

Também tivemos um parquinho com balaço, escorregador, gangorra e caixa de areia no fundo do quintal. Na parte cimentada, eu e meu irmão desenhávamos ruas e cruzamentos para andar de bicicleta em alta velocidade. Jogávamos vôlei, futebol, basquete...

Estou lembrando agora de mais uma invenção do meu pai: uma forma de prender o cachorro de forma que pudesse correr de um lado para o outro. A corrente do cachorro não era presa num ponto fixo. Ela corria ao longo de um fio de arame bem grosso fixado no chão, rente ao muro, de fora a fora. Era gostoso ouvir aquele barulho e saber que o Sansão estava por ali...

Durante a década de 80, no período de crise mais grave, muita gente não conseguiu pagar as prestações do financiamento e quase perdeu a casa. A gente estava nessa lista.

Graças a um erro do governo da época na proposição de um acordo, aliado à agilidade dos meus pais e à valiosa orientação de uma amiga da família que trabalhava na Caixa Econômica Federal, conseguimos dar entrada na papelada no único dia em que a possibilidade desse acordo vigorou. Voltamos a pagar as prestações e, alguns anos depois, quitamos a dívida.

Minha avó - que mora hoje numa casa construída no fundo do quintal que abriga tantas memórias (aproveito para desafiar meus leitores a adivinharem quem projetou essa casa tão bem resolvida em termos de aproveitamento de espaço, iluminação e ventilação) - afirma que foi um ritual de despedida para os antigos moradores daquele terreno, envolvendo xaxim e queimas, que abriu os caminhos para a consolidação dessa conquista.

Quem sou eu pra duvidar? Agradeço profundamente, a todos os viventes e não viventes, pela graça alcançada.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Videocassete

Na década de 80 os videocassetes chegaram às casas das pessoas.

Apesar de não termos dinheiro para comprar nem Danoninho, um belo dia meus pais chegaram contentíssimos em casa.

Pareciam duas crianças. Subiram correndo as escadas. Enquanto meu pai instalava aquele trambolhão preto na TV, minha mãe segurava ansiosa as 5 fitas que alugou na primeira locadora inaugurada no bairro. Depois percebemos a importância de ela ter sido uma das clientes mais antigas, mais assíduas e com o maior tíquete médio daquele lugar: isso foi determinante para a criação do único acervo dos chamados filmes de arte num raio de 15 km.

Uma vez, eu peguei 5 filmes no início das férias - que terminaram sem que eu os tivesse devolvido. Foi uma crise de grandes proporções lá em casa. Para compensar o prejuízo, combinamos que eu ficaria 6 meses sem passar nem perto da locadora.

Resultado: fiz a carterinha na biblioteca e comecei a ler muitos livros das coleções Vagalume, Tramas e Transas, Encontros e Desencontros, Para Gostar de Ler, ... Além deles terem me ajudado a viver muitas aventuras, me deram um importante argumento para tentar reduzir a minha pena: aos 3 meses de uso semanal da biblioteca, não tinha atrasado em 1 dia sequer a devolução dos livros.

Chamei meu pai para uma reunião e ele não resistiu ao "poder dos meus argumentos". Foi assim que pude voltar a alugar minhas fitas.

Acredito que alguns filmes que vi naquele videocassete fizeram parte da minha constituição pessoal: "Thelma & Louise" me fez valorizar a coragem feminina; "A Insustentável Leveza do Ser" me sensibilizou para as noções de público e privado, liberdade e cerceamento; "Retratos da Vida" contribuiu para fortalecer minha aversão à guerra; "Shirley Valentine", bem, esse eu só fui entender muito tempo depois...

Gosto de narrativas. De contextos, de evoluções, de clímax, de transformações, de gente em construção.

E também gosto de finais felizes.

domingo, 16 de novembro de 2008

Política e Democracia

A década de 80 foi muito importante para a democracia brasileira. Primeiro, aconteceu a passagem do poder dos militares para um presidente civil - que morreu em seguida. Depois, veio o bigodudo maranhense do Plano Cruzado. Depois aconteceu a eleição do caçador de marajás.

Dessas épocas me lembro de ver meus pais preocupadíssimos, acompanhando na TV o cortejo do caixão coberto com a bandeira, sem conseguir que alguém conseguisse me fazer entender o que estava acontecendo.

Depois me lembro de ver um montão de gente nas passeatas pelas "Diretas Já!" e meu pai falando que "a mamãe estava aparecendo na TV". Forcei muito a vista para enxergar, mas não vi nada.

Também me lembro da inflação galopante. Ela fazia com que meu pai ligasse pra minha mãe no dia em que recebia o pagamento e assim nos aprontávamos depressa para chegarmos ao supermercado o mais rápido possível.

Naquela época fazíamos uma compra enorme, pro mês inteiro, e tentávamos sempre pegar os pacotes da direita do etiquetador (antes que ele conseguisse terminar de remarcar os preços). Foi nessa época que compramos o freezer, pra poder estocar carnes por mais tempo.

Nas eleições de 89, fui ao meu primeiro comício - o mais lindo do mundo. Muita, muita gente no Anhangabaú cantando "é a gente junto, valeu a espera, sem medo de ser feliz". A gente realmente pensou que fosse daquela vez. Mas o Jornal Nacional editou o último debate e mudou os rumos da eleição.

Acompanhei tudo isso e acreditei que a população tem mesmo algum poder de influenciar seu próprio futuro, de mostrar sua força nas ruas, ainda que nem sempre os objetivos sejam alcançados numa primeira vez.

Talvez essas experiências tenham contribuído muito para meu jeito de pensar o futuro e o país - contruído por todos, melhor para todos.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

TK85

Segundo a amiga Wikipedia, na década de 80 os computadores se popularizaram. Eu estava lá e vi isso acontecendo desde o começo.

Meu pai é pesquisador do IPT desde que nasceu e, portanto, sempre teve acesso antes ao que estaria por vir. Foi assim que, quando eu tinha uns 3 anos, ele chegou com um TK85 em casa.

Era um computadorzinho que tinha 64 kilobytes (KILO-bytes!) de RAM. Tinha um componente com um interpretador de Basic e os programas ele lia de um... gravador a pilha! Sim, desses que liam fitas cassete (e que a gente utilizava canetas Bic para rebobinar - para não gastar as pilhas que não eram nem alcalinas, nem recarregáveis). Ouvir aquelas fitas era como ouvir a tela das "formigas" que passavam na TV quando estas saiam do ar. E eu me perguntava como era possível que aquele joguinho tão legal do labirinto pudesse estar escrito naquele barulhão.

Também tinha o Atari. Ao invés de comprarmos os cartuchos dos jogos, meu pai copiava o programa em circuitos integrados virgens (!). Era só tirar o componente do encaixe e substituir por outro. A tecnologia da minha casa avançou quando ele implementou uma alavanca para fixar e liberar o CI com mais facilidade. Genial, esse meu pai.

Depois veio o Apple, medindo pouco menos de 1 metro quadrado de área, a partir de uma vista aérea. Nele havia um jogo que tentava adivinhar o animal que você tinha pensado. Se não acertasse, te fazia uma pergunta e aprendia o novo animal para acertar da próxima vez. Muito esperto esse programa. Mas muito ingênuo também (a gente contava um monte de mentiras e ele fazia papel de bobo de vez em quando).

Essas são as memórias digitais da primeira década da minha vida. Muito tempo depois agreguei na minha vida a robótica, a eletrônica, a pneumática e vai, vai, vai... até uma feira de nanotecnologia que visitei ontem - e que merece um post exclusivo, depois que essa missão de retrospectiva acabar.

O fato é que acho tecnologia um grande barato!

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Contagem regressiva

Hoje começa a contagem regressiva: 3 meses para meu aniversário de 30 anos. 1 mês para cada década. Pensei em fazer, a partir de agora, uma retrospectiva que relacione fatos históricos dos anos 80, 90 e 00 com a história da minha própria vida nesses períodos.

Vamos ver se vou ter perna pra isso...

domingo, 9 de novembro de 2008

E na morada...

Ontem descobri que o sol vai bater nos 4 metros quadrados mais ansiosos por raios UVA e UVB da minha vida. Sincronia total com a compra daqueles dois biquinis que estavam nos planos - e o mais legal: nos encontramos mais bonitos do que previam os meteorologistas, graças so poder da marquinha (!) que a essas alturas já apresenta ares de mais saudável.

Outros toques no acabamento vão ativando sonhos. Ali vão acontecer as conversas filosóficas, ali vou comemorar meu aniversário de 30 anos, lá teremos as aulas de culinária com a Mazé. Vou imaginando as músicas que serão tocadas em cada uma dessas ocasiões, os amigos que estarão comigo, as risadas, o açucar, o afeto.

Pareço uma criança das épocas de albergue de primos em Ribeirão Preto. Naquelas madrugadas imaginávamos piscinas com passagens secretas, casas nas árvores, descida do segundo andar por pau de sebo, garagem em que caíssemos sentados em nossos carros conversíveis à moda do Batman.

Hoje a cabeça é diferente, mas o deleite é igual.

Que seja eterno enquanto dure.

sábado, 8 de novembro de 2008

Possessiva

Como é chato ver seu blog andando por aí com outros conteúdos.
Preciso mexer nesse template urgentemente. Pra ele ser só meu...

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

CD em Loop Infinito

Amor é sempre bonito. Não interessa se a primeira, segunda, terceira, quarta ou milionésima vista...

Vi, Não Vivi - Zélia Duncan
Composição: (Itamar Assumpção)

Primeira vez que eu te vi
Meu coração não fez clique
Se ouvi ou vi, não vivi
Seu clique, seu trique-trique
Não vi sushi, sashimi
Nem eros, nem afrodite
Primeira vez que eu te vi
Primeiro vi seus limites


quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Ensaio sobre a razão

Sou ferrenha defensora da racionalidade (mesmo porque faz parte do instinto de sobrevivência as pessoas defenderem aquilo que predominantemente são).

Olhar a vida pelos olhos da razão faz com que a gente se localize melhor no mundo. Vamos paulatinamente entendendo melhor suas dinâmicas, as forças que nele atuam, seus elementos constituintes. Ficamos gradativamente menos ingênuos e menos reféns das situações (na hipótese, claro, de estar ao nosso alcance fazer algo a nosso favor).

Olhar pra si pelos olhos da razão nos faz mais senhores de nós mesmos. O livre-arbítrio, na minha opinião, joga no time da razão (se bem que, pensando melhor, pode haver controvérsias a esse respeito). Mas vá lá: os objetivos, os planos, a realizações, definitivamente não ocorrem por impulso ou acaso.

É claro que nem tudo são flores na vida de um racional inveterado. Especialmente quando ele é possuído pela obsessão/ilusão de pretender chegar ao grau máximo da evolução de sua espécie: a coerência. Se, além de coerente ele ainda quer ser lembrado como exemplo de bondade, ética ou sabedoria, aí danou-se.

Ia dizer que a pessoa racional aprende mais rápido, podendo mais rapidamente superar as ilusões, mas acho que isso é uma grande bobagem. O auto-engano está aí, à disposição de todos, para os mais diversos fins. O auto-engano é do território da emoção - e ninguém está livre dele. Conclusão aristotélica: ninguém está livre da emoção.

E nessa parte do texto eu fico com vontade de agradecer, mas agradecer mesmo, todas as vezes que a emoção é forte demais e sai do controle da razão. É pela emoção que nos sentimos vivos.

Fechado o parênteses - e com uma dificuldade enorme de me focar no objetivo inicial desse texto - começo a pensar na admiração que tenho pelos intuitivos e pelo seu pensamento não linear.

É, minha gente. Era uma vez uma pessoa que ia fazer uma defesa ferrenha de alguma coisa nesse post...

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Vulnerabilidades

Há algum tempo estava querendo escrever um post sobre o cuidar. Tenho tido algumas experiências que revelam a força de um gesto de carinho/solidariedade/cuidado/respeito para uma pessoa que se encontra num ambiente hostil ou indiferente à sua presença.

A coisa é forte. É forte a ponto de fragilizar, derreter, apaixonar, manipular. Por coisas simples - idiotas até.

Como alguém tirar caixas pesadas da sua mão e prontamente te ajudar a carregar, naquele dia fatídico. Como alguém comentar no seu blog quando você estava carente e ninguém mais o fez.

Fico pensando nos muitos milhões de outras pessoas desse mundo que tem a vida mais triste do que a minha, que são vistos com mais indiferença ou mais hostilidade, numa frequência maior que eu.

Me faz entender como é fácil se deixar levar por um candidato qualquer que ofereça uma coisa qualquer acompanhada de um sorriso. Me faz entender como é fácil se deixar levar completamente por um caso que ofereça qualquer migalha, qualquer olhar de ternura ou desejo.

Promessas de uma vida melhor. Quem as deixaria escapar?

Alguns fechados, alguns atentos, alguns vítimas das maiores perdições. Somos todos vulneráveis.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Ações em baixa

Estou num dia daqueles bem confusos. Querendo o que não tenho, tentando e não conseguindo, reclamando silenciosamente e não sabendo se tenho direito de exigir alguma coisa.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Fuerza Bruta

Pois dança contemporânea é isso: explorar os movimentos e limites do corpo e suas interações com outros corpos (vivos ou não) buscando um significado (uma expressão) ao invés de um padrão (uma perfeição).

Fuerza Bruta é um espetáculo estético, luminoso, engenhoso. Fala dessa loucura que é a vida, dos encontros e desencontros, da roda-viva que nos traz coisas e depois nos tira, das transformações, da perda da ingenuidade, da vontade de romper, da necessidade de arriscar. Significado forte (e bruto, como era pra ser).

Não virei tiete, entretanto. A engenharia do espetáculo é impecável, os efeitos deslumbrantes (com o mérito suplementar de contar apenas com engenhocas, água, vento e artigos de papelaria), mas algo me faltou.

Fiquei desejando um equilibrio maior do vídeoclipe com aquilo que é propriamente humano. Queria sentimento, reação, atuação. Queria que os atores fossem densos como o tema que se propuseram a abordar.

Ter tido uma excelente professora de dança contemporânea me fez mal em algum sentido.

Ah, e antes que eu me esqueça: ainda bem que os homens crescem e seus hormônios se regularizam. Adolescente homem é realmente um bichinho muito babaca...

domingo, 26 de outubro de 2008

Num canto do armário

Várias coisas estão convergindo para lentamente me persuadirem a cuidar mais do corpo (no sentido estético mesmo, a saúde apenas pegando carona). Isso acontece de vez em quando - e nunca com o ímpeto ou a persistência necessários.

Aliás, os momentos em que me lembro de ter conseguido efetivamente emagrecer foram poucos e não necessitaram das virtudes acima. Coincidiam com meses de trabalho excessivo que envolviam deslocamentos constantes e alimentação precária (como quando fui presidente do Centro Cívico, ocupadíssima, no colegial, ou organizando um evento com a relação grandeza-equipe desfavorável, bem mais tarde) ou naqueles meses de intensa paixão (dessas de fazer a pessoa perder a fome e se alimentar de brisa). Nesse último caso, a "boa forma" veio também acompanhada de outros hábitos embelezantes: postura impecável, cortes de cabelos, roupas, pefumes, unhas, sapatos, sorrisos... (portanto, meninas, se puderem escolher, eu indico o método nº2) .

Atualmente tenho querido voltar para o Vôlei. Só de pensar em ver aquela rede-passando-abaixo-da-altura-dos-olhos-para-que-o-braço-alcance-a-bola-que-vai-ao-chão, já sinto a alegria rondar...

O sol também é um convite para comprar biquinis novos, acompanhado das várias exigências silenciosas e insuportavelmente barulhentas embutidas nessa ação (e para as quais invariavelmente me finjo de surda). Aaaaaaaaahhhhhhhh!

O post sobre as coisas do mundo do vivos também abriu minha consciência. E tem também um outro fator, mas esse não é apropriado para este espaço.

Tomara que a onda venha forte mesmo como está parecendo que virá. Que não vire uma frustrante marolinha como tantas outras vezes.

Minha velha calça manequim quarenta continua à postos, paciente e à espera, enquanto me fita num canto do armário.

sábado, 25 de outubro de 2008

Fotografia Literal 1 - encarando o desafio

No rastro de Laganaro, Kris e outros, publico minha fotografia falada. Convido Bera, Lilian e Gabriel para fazerem o mesmo. Continua meu movimento pró-blog dos amigos, que nessa hora fazem uma falta danada!

No verso, "primavera de 2008".

Hoje estou numa fase boa da minha vida. Me sinto reconhecida (inclusive por mim mesma, vejam que raro!) e recompensada por meu trabalho. Me sinto relevante e não sou explorada - uau! Estou prestes a conquistar (with a little help) algo que desde muito cedo eu encomendei para meus 30 anos: com direito a terraço, lua e, quem sabe?, brisa entrando pela cortina esvoaçante (o saxofone eu resolvi mesmo deixar pra lá).

Ainda não equilibrei vida profissional e vida pessoal - continua sendo um projeto futuro daqueles, assim, bem suaves, tênues, sem contar com tanto esforço para sua realização. Talvez por eu não confiar de verdade. Talvez - mais provável - por eu não querer de verdade.

Sabe o que é? É que as fases ruins da vida não passam impunemente. Me convenci - em camadas profundas demais para não serem sentidos os reflexos em tudo - de que trabalhar, pensar, arquitetar, realizar, era algo para os quais eu tinha mais talento do que para cativar, aproveitar, seduzir, curtir. Pode parecer estranho, mas minha zona de conforto está mais lá do que cá. Confesso que sinto inveja e admiração pelos outros que, nesse sentido, conseguem não ser eu.

Sinto saudades de várias coisas, mas não me arrependo de nada. Não por qualquer princípio normatizador ou qualquer racionalização besta, mas porque, apesar de perdida muitas vezes, acabei fazendo escolhas com "E" maiúsculo, pensadas e combinantes comigo. E isso me tranquiliza.

Às vezes quero mais do que minhas censuras internas permitem. Procuro não reprimir, mas também não realizar. Brinco. Faço com que a fantasia dê conta de realizar o desejo que não pode ser realizado. Conservo a criança para não desestruturar o adulto. E minha vida segue nos eixos...

Não existe um vulcão dentro de mim - pelo menos não um que eu, até agora, não tenha conseguido conter em suas erupções. Mas acho lindo todo aquele magma. Por isso sou fascinada pela pessoas intensas, pelas discussões acaloradas, por "ser inteiro".

Gosto. Desde que nada seja inventado, desde que sinta que tudo é verdadeiro.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Emissor - mensagem - receptor

Fato Social: blogs funcionam melhor quando existe um leitor presumido.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Mentalizando

Depois do comentário do Paulo no post "Sobre as Ondas", fiquei matutando sobre a tendência das esquerdas (e das pessoas que simpatizam com as esquerdas) de transformar pessoas em abstrações.

Certamente a carapuça parece ser feita sob medida para mim. Não conheço ninguém que se sinta tanto um ente imaterial quanto eu.

Há pouco tempo coloquei em prática uma idéia que certamente convencerá o mais cético dos meus leitores de que, bem, eu não devo bater muito bem.

Programei meu celular para tocar todos os dias às 10:00, às 14:00 e às 16:00. Pra quê? Pra me lembrar de beber água e de me livrar da água que bebi no horário anterior. Ainda lamento o fato de meu celular não disponibilizar outros alarmes para que eu me lembre de almoçar e de parar de trabalhar.

Já esqueci meu aniversário e não foram raras as vezes que me surpreendi com minha própria idade (eu era capaz de jurar que tinha uns dois anos a mais!).

Agora, se tem uma coisa que eu não me esqueço é de me perguntar diariamente se estou cumprindo minha proposta de vida.

Sim, eu pertenço ao mundo das idéias, dos conceitos, do modelos, das abstrações.

Talvez seja por isso que o dia tem uma cor diferente quando tenho a oportunidade de dançar e dar um passeio pelas intensidades do mundo dos vivos...

Posts em 140 caracteres

Entrei no twitter. É óbvio que isso não vai acabar bem...

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Duas horas lendo blogs que há meses não acessava

Tem gente mais observadora que eu, mais engraçada que eu, mais triste que eu, mais entusiasmada que eu, mais superficial que eu, mais variada que eu, mais filosófica que eu, mais monótona que eu.

Mais chata que eu num dia como hoje? Duvido.

domingo, 5 de outubro de 2008

Cada coisa em seu lugar

Tenho ficado mais organizada com a idade. Meu quarto, meu armário, meus arquivos, meus e-mails, tudo o que quero encontrar, encontro com mais facilidade com o passar dos anos.

Em se tratando das coisas palpáveis, talvez esse fenômeno seja resultado de morar num apartamento pequeno e não mais numa casa grande. Uma amiga minha diz que sua receita de sucesso para arrumar as malas para uma viagem é primeiro escolher a mala, depois os itens que irão dentro dela. Todo ser humano precisa de limites.

Em se tratando de bits e bytes, o limite é uma realidade virtualmente impossivel (a não ser que você guarde vídeos ou muitas músicas). Assim, aquela velha tendência de guardar todo o lixo porque "um dia eu posso precisar" impera com toda força. O desafio da organização nos domínios desse reino é maior, mas também consegui uma estratégia interessante para lidar com isso.

Dentro de um grande assunto, crio pastas para arquivar tudo aquilo que se mostra útil desde o primeiro instante, inclusive numerando as pastas para garantir a sequência lógica dos assuntos. Os arquivos que sobram são encaminhados para uma pasta que fica sempre no final da lista intitulada "menos importantes" ou coisa similar.

Um dia desses, um processo de avaliação saiu do controle. O fluxo era tão intenso e o lixo era tanto que quase me vi rendida. Foi então que a experiência da casa grande veio me ajudar. Criei uma pasta chamada "sótão". Encaixotei e levei para o sótão tudo aquilo que não estava nas minhas necessidades imediatas. Sem aquele volume todo na frente dos meus olhos, minha casa ficou mais habitável e pude seguir feliz com minha vida.

Ontem entrei no sótão para tentar encontrar um arquivo. Assim como na vida real, entrar no sótão é sempre uma experiência...

domingo, 21 de setembro de 2008

Musical

Ah, se toda vida fosse irreverente, engraçada, divertida como Mamma Mia...

domingo, 14 de setembro de 2008

Sobre as ondas

Comecei a ler um livro sobre fracasso escolar que começa fazendo um apanhado histórico sobre o a evolução do preconceito de raça e, posteriormente, do preconceito de classe. Também sobre a forma como tivemos (a humanidade) que ser educados para correr atrás das coisas que corremos atrás nos dias de hoje ("todos eles querem grana, poder, dinheiro, diamantes, flashes excitantes...").

Nessas horas sinto minha ideologia de esquerda subitamente recuperar suas forças e me perguntar: é isso mesmo? a história já acabou? fizemos as escolhas certas? não há mesmo como voltar atrás, se assim decidirmos daqui pra frente?

domingo, 7 de setembro de 2008

Paradoxos íntimos

Se as pessoas exercitassem mais a metalinguagem/metaanálise/metavisão consigo mesmos, tenho certeza que saberiam qual é a sensação de se ver em paradoxo.

Experimente se perguntar se aquilo que você critica mais fortemente no outro também não acompanha você em suas ações. O resultado é desconcertante, irônico, divertido... e promove a humildade que é uma beleza!

Minha mais recente:
"Não dá pra ter esses professores como participantes das nossas formações. Se eles não acreditam na capacidade de aprendizagem de seus alunos, como é que vão conseguir fazê-los aprender?"

E o pior é que a gente fala isso a sério, acreditando e se dando razão.

sábado, 16 de agosto de 2008

Escancaradamente Ensolarada

Hoje o Rodrigo me mostrou um Podcast do Kris, que trazia entre suas últimas descobertas, uma música do grupo Facto Delafé. Também hoje descobri, escondida depois da última faixa do segundo disco da Maria Rita, "a paixão é como um Deus que quando quer me toma todo o pensamento".

Acho que hoje é um daqueles dias escancaradamente ensolarados em que me sinto além de feliz sem motivo, particularmente sensível para a arte (dias para se aproveitar!). Dias em que não deixo de pensar e teorizar - meu vício (talvez minha essência, quem sabe?) - mas essa atividade não me consome.

O Facto Delafé me fez pensar que eu poderia criar canções como as deles, bastaria começar sentindo o ritmo do sentimento que me acompanha no momento. Descoberto o ritmo, buscar as oscilações - tendências de aumento, de queda, as interruções abruptas ou o desenrolar suave provocado pelos sentimentos - e assim criar a melodia. Ritmo e melodia. Para definir o timbre, o instrumento perfeito, descobrir a textura do sentimento. Tudo muito simples...

A Maria Rita, por sua vez, me despertou o teorizar sobre a paixão - sobre seus ingredientes, sobre alguns pré-requisitos a serem cultivados, sobre a possibilidade ou não de se apaixonar repetidas vezes pela mesma pessoa.

Hoje é um desses dias em que eu acredito que tudo é possível.

sábado, 2 de agosto de 2008

Te encontro no infinito?

Momento de desafio para a manuntenção, imediatamente anterior a um ponto de possível inflexão.

Mudança de Presidência e de Conselho. Ano político e, portanto, de possíveis descontinuidades. Urgência de novos modelos que dêem suporte aos vigentes. Grandes decisões e grandes oportunidades à vista, inclusive pessoais-profissionais.

Paralelamente a isso, a vida indo concluir mais uma década de seus respectivos balanços.

Ser ou não ser? Eis a questão.

sábado, 12 de julho de 2008

A foto do avô

No embalo das coisas de antigamente, olhem a foto que eu herdei do meu avô. Acho que ninguém tem uma foto de avô assim:


Na exposição Bossa na Oca descobri que o violão não era tão popular antes de 1958 e de João Gilberto. Levei um susto - nunca poderia imaginar uma coisa dessas. Meu avô nasceu em 1910 e, na foto, ele não parece ter mais de 30 anos. Definitivamente uma vangarda.

Ainda na perpectiva dos paralelos - do antigo que já foi moderno - essa foto poderia ser o correpondente aos pôsteres de bandas que temos hoje - com um band líder de olhar meio rebelde, meio sedutor.

Nem preciso dizer que sou apaixonada por essa foto.

Minha avó mandou muito bem...

quarta-feira, 9 de julho de 2008

O diário do tataravô

Esses dias soube que alguém encontrou o diário do Tataravô. E me deu vontade de também deixar um diário para meus tataranetos.

Queria que fosse um desses diários com capa de couro e símbolo rococó na frente. Coisa de quem não pensa, por um lado, que o diário do tataravô provavelmente era super moderno para a época e, por outro, que o blog de design mais futurista de hoje certamente será visto um dia com muita curiosidade por um colecionador de antiguidades.

Existe uma peculiaridade - talvez romantizada - a respeito dos diários escritos em cadernos com capa de couro que os blogs dificilmente conseguirão mimetizar: a idéia de que, no diário, estariam presentes os diálogos internos, os pensamentos íntimos mais secretos do autor - algo como a "essência a ser descoberta" sobre aquele ser humano.

Estariam mesmo? Me pergunto se também o tataravô - assim como nós blogueiros nos dias de hoje - não optaria por registrar em seu diário apenas as melhores partes daquilo que ele é. Me parece certo que o indíviduo ao menos suspeitasse que seu diário seria lido por outras pessoas depois de sua morte. O que deixar escrito sobre si para um provavel leitor indefinido/aleatório do futuro?

Talvez o diário não fosse projeto público nem tampouco privado. Talvez fosse simplesmente hábito, como são tantos outros hábitos: fazer apenas, sem se perguntar o como nem o porquê.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Final de Semana

Pensei na semana passada: ainda bem que existem os finais de semana de descanso para podermos trabalhar em paz.

Fala sério, isso não é vida, né?

sábado, 21 de junho de 2008

Meu pai e meu papel

Recomendo um pai que te convide a se perder, quando pequena,
e te ajude a se encontrar, quando grande.

"Seu papel não é impedir que problemas aconteçam. Especialmente em se tratando da área em que você trabalha - isso é definitivamente impossível. Seu papel é mitigar problemas, ou seja, reduzir-lhes os impactos, quando acontecerem."

Isso eu venho fazendo. Pode se (e posso me) orgulhar de mim. Que bom que estou de volta.

domingo, 1 de junho de 2008

Sobre a não coordenação de grupo

Nem fiz. Às vezes a gente tem que aprender a deixar cada um com seus problemas.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Coordenação de Grupos II

E lá vou eu de novo, o pepino me aguarda. Lusco-fusco só para os fortes. Esconda-se quem puder.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Na escola

Realmente. A diferença entre professor e aluno é apenas o lado que fica da mesa. Na frente da mesa, professor. Atrás da mesa, aluno. Com direito a colocar o coleguinha "de gelo".

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Lembretes

Há vezes que fico completamente perdida, sem saber porque não estou feliz (sendo que poderia estar). Nessas horas é bom que eu me lembre:
- de não ser pão-dura comigo mesma
- de procurar me alimentar de arte
- de expandir horizontes, de lembrar que a vida é sublime e que as possibilidades são sempre infinitas...

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Conversa de bêbado

Então chega um dia em que a pessoa chega à conclusão:"a vida que eu sempre sonhei não existe". Algumas pessoas são/estão melhor preparadas para entender a vida, outras menos. Isso sim é algo de que se deva ter inveja.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Homeopatia

Filosofias são sempre bem vindas. Essa de que não existe doença - existe doente - me traz insights engraçados.

Tenho uma grande simpatia por teorias que aumentam o poder pessoal do ser humano. Também simpatizo com qualquer coisa que se preste a resolver o todo, e não a parte.

Mas há algo nessa história da homeopatia que eu não consigo levar a sério e hoje eu finalmente descobri o que é: eu acredito em microorganismos.

E não tenho a falta de humildade de pensar que eu, em condições normais de temperatura e pressão, seja necessariamente mais forte que eles.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Personalizando a política e a economia

Pois sim: venho tentando há muito organizar processos dinâmicos e posso dizer que a coisa não é fácil.

Tenho trocado idéias e escutado sobre dificuldades semelhantes de outros gerentes de projetos, possuidores de outras tantas características diferentes das minhas. Confimação da não facilidade da coisa, deverasmente.

Então escuto a CBN hoje e me deparo com questões (tão distantes de mim!) cujo gerente desse projeto chamado país tem que lidar.

Em nome de todos os gerentes de projetos, lanço mão dos versos finais de Brecht: Lembrai-vos de nós, com compreensão.

domingo, 27 de abril de 2008

Admiração

Intensidade, vida, ânimo, alma. Tem gente que transborda, mesmo tendo bons motivos para não poder.

sábado, 26 de abril de 2008

Ponto de contato

Conhecem diagramas lógicos? Entre dois conjuntos há várias formas de contato: totalmente contido, parcialmente contido, totalmente separado...

Pois é, nunca gostei muito das tangentes.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Equilibrista

Novos ciclos. Coisas grandes. Muito aprendizado. E dá-lhe pratos chineses pra gente manter rodando...

domingo, 6 de abril de 2008

Que venham os exemplares

Depois de acumular pontos por gastar bons dinheiros durante o ano no cartão de crédito, fui até o site para resgatar meus pontos. Agora a Editora Abril sabe que tenho interesse por um determinado título de seu portfólio enquanto eu, de outro lado, fico feliz em receber gratuitamente meu presente durante 6 meses - de valor certamente muito inferior à soma do que os lojistas pagaram para terem o benefício da minha compra. Não importa. Energia, dinheiro e Bons Fluidos são pra circular, não para reter.

domingo, 30 de março de 2008

Casamento da Leonora

Minha mãe volta e meia diz que grandes aprendizados só vêm pela dor. Eu sempre discordei disso, mas nunca tinha um contra-exemplo suficientemente bom para não ser engolida na discussão.

Nunca me senti tão bem cuidada como convidada. Falo do sentimento que agora sinto e que não conhecia: o sentimento de ser muito amada ao mesmo tempo que todos os outros. Esse amor no atacado que talvez só as pessoas muito grandes sejam capazes de praticar.

Minha mãe está errada. Ontem/hoje aprendi grandes coisas por meio da felicidade.

domingo, 23 de março de 2008

Más companhias

Educadores não são boas companhias pra se falar de guerras como solução para conflitos mundiais.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Expectativa

Toda dor vem do desejo de não sentirmos dor. Frase em homenagem a uma certa reunião de avaliação de um certo evento.

sábado, 15 de março de 2008

237

Agora sim, posso dizer que passei. E ainda subiu um pouquinho minha classificação depois da prova de digitação e formatação de texto. Quando eu for chamada, terei um dilema. Com certeza.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Dizer não

Defender o próprio território não é uma tarefa fácil para todas as pessoas. Se alguém souber de um curso que ensina isso, por favor, me indique.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Disputa pelo tempo

Quanto maiores são as coisas que você está fazendo, menor sua possibilidade de falar sobre elas.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

A festa

Arriscado, mas recompensador.
Fiquei feliz, feliz de ver tanta gente querida, feliz de perceber que aquele medo antigo já não tem mais razão de ser. E continuam chegando respostas de quem iria se tivesse sabido a tempo.
Feliz aniversário, Camila!

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Tomara que seja o último post sobre o assunto...

Amigos (!?) às vezes decepcionam a gente.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Bah Bah Bah

Tentei não ser fisgada, mas não foi possível.

Estou entre os milhões de brasileiros que se afeiçoaram pelos estranhos que compartilham da experiência única de serem pessoas desconhecidas e, de repente, famosos, observados 24 horas, testando suas habilidades em conquistar algum carinho ou outro sentimento, por parte dos estranhos do lado de cá, que os mantenha por mais semanas em seu retiro material.

Nunca tinha me interessado por conviver com os componentes dos grupos anteriores, não via interesse em permanecer com aqueles, então não assistia. Assim descobri que o que me mantém interessada nessa edição atual é mais uma espécie de amizade (!?) do que propriamente de voyerismo.

Saberei que a coisa degringolou completamente quando eu tiver anotado o telefone pra ligar. Por enquanto, permaneço lúcida.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Carpe Diem

Não dá pra contar tudo como líquido e certo.
Mas também não dá pra não contar.
Carpe Diem, inclusive na parte do dia em que se sonha o futuro.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

O Cacique

O Cacique ensina ao Curumim:

- Curumim, tenha em mente que um bicho é um bicho. Não fique triste, bravo, com raiva ou magoado se um bicho se comportar como um bicho. Ele é um bicho e é natural que se comporte como tal. É o caçador quem deve ser mais esperto que o bicho, surpreender o bicho para pegar o bicho.

Minha próxima aquisição será um cocar.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

O Bicho

Existe alguma forma de lidar com alguém que não mantém a palavra ou (não dá pra saber) não mantém a memória da palavra empenhada? (no fim dá tudo no mesmo).
Existe alguma forma ou a única saída é procurar manter distância de uma pessoa assim?
E se essa pessoa é A pessoa com possibilidades reais de fazer um grande sonho seu acontecer?

domingo, 27 de janeiro de 2008

Controle

A véspera de viagem de uma pessoa que vai ficar longe por 3 dias diz muito sobre sua necessidade de controle. Ainda mais quando ela acha que tem que ser assim mesmo pra garantir que tudo dê certo.

Isso me faz lembrar um amigo que um dia me perguntou se eu realmente acreditava que um dia iria morrer e eu não pude responder assim com tanta certeza...

domingo, 20 de janeiro de 2008

Lucidez

Quando uma coisa muito boa - mas muito boa mesmo! - acontece e tem uma responsabilidade grande - mas uma responsabilidade grande mesmo! - associada, a pessoa pode explodir de alegria (pensando na recompensa) ou paralisar de pânico (pensando na tarefa). Ou pode, ainda, manter o equilíbrio de uma felicidade serena. A isso eu chamo maturidade. Ou lucidez.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Reviravoltas

Perdi oportunidades de escrever posts interessantes essa semana.
Mas, também, se eu tivesse escrito todos, meus leitores achariam que eu sou esquizofrênica.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Promessas de felicidade

Existem pessoas que se aprimoram em habilidades de prometer felicidade aos pobres românticos.

Mesmo românticos escolados têm dificuldade de controlar o arrebatamento de um coração fisgado por sinais estudadamente pouco exagerados e "reveladores" da falta que fazem, do quanto são especiais, do quanto são queridos (apesar de tão pouco tempo!).

Geralmente os caçadores de românticos têm vidas ocupadas, estão sempre de passagem e - uma vez que excesso de perfeição é motivo pra desconfiança do santo - reside exatamente aí, na impossibilidade de ser completamente feliz pela distância de tempos e espaços, o fator que faz com que o santo creia.

Além, claro, da perspicácia absoluta do predador em descobrir traços apaixonantes da personalidade do romântico que nunca ninguém viu ou expressou de forma tão exata antes. O romântico é exatamente como o sedutor descreveu. Portanto, na lógica do romântico, todo o restante tem boas chances de ser igualmente verdadeiro.

São os românticos que produzem os sedutores (se alguém vende é porque alguém compra). E também quem tira o melhor proveito das habilidades longamente desenvolvidas, eterno enquanto dura.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

O Medo

A gente costuma encarar o medo como algo ruim, que deve ser superado. Acho que é da cultura ocidental julgar o valor de uma pessoa como sendo tanto maior quanto maior for sua coragem e ousadia.

Em geral não encaramos o medo como um aliado, sempre pronto a nos preservar. Associamos o medo... ao monstro. Derrotando o primeiro, o segundo será automaticamente liquidado. Como se monstros não existissem e "perigo" fosse uma palavra ultrapassada.

Prefiro o lema de uma amiga: vou com medo, mas vou.

Vou com o medo que avisa, pondera e acautela. Com o medo que diminui a velocidade dos fatos, mas aumenta as chances de um final feliz.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Insolúvel

O que é certo é certo.
O que é errado é errado.
O problema é que, às vezes, o que é certo dá errado e o oposto também não é verdadeiro.

sábado, 5 de janeiro de 2008

Pé direito

Nem bem terminei a mandala de 2008 e já tem desejo se realizando.
Com o perdão do trocadilho, estou começando o ano com um senhor pé direito...