quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Acidentes pessoais

Os anos 90 foram os anos de ouro do Vôlei. Giovanni levantava os suspiros da torcida feminina. O Tande, com seu saque Jornada nas Estrelas, levava para o infinito a esperança de vitória nos Jogos Olímpicos. E deu certo!

Enquanto isso, nas quadras do já extinto Galileu Galilei, às terças e quintas à tarde (e em todos os recreios), as meninas da 7ª série apefeiçoavam suas sofríveis habilidades no trato com a bola e com a rede. Foram jogar também em outros colégios, tendo ficado invictas na disputa de últimas colocadas em todos os torneios de que participaram.

Eu, perto daquela mulherada, até que jogava bem. Conseguia perder pouquíssimos saques, dar impulsões e fazer alguns bloqueios, dar umas boas cassetadas na bola e vê-las atingindo o solo do outro lado.

Numa dessas ocasiões - num amistoso de véspera de campeonato para o qual eu estava me preparando com afinco e, por causa dele, corri para tirar meu RG - subi para um bloqueio e desci em cima do joelho de uma adversária que invadiu, estabeleceu seus exércitos e começou a pagar IPTU do nosso lado da quadra. Meu pé ireito virou no joelho dela e chegou ao chão em posição de romper todos os seus ligamentos laterais. Quando acordei já estava na sala da coordenação, com o pé enterrado embaixo de uma montanha de gelo.

Ali soube que a Alice, a professora de educação física, tinha me carregado de cavalinho durante todo o trajeto - que incluia uma exibição especial no pátio onde acontecia o recreio do colegial. Um vexame de grandes proporções para uma menina de 13 anos. Rezava para que o Fernando do 2ºB estivesse bem distraído nessa hora.

O episódio me rendeu: 3 meses de imobilização, 2 de fisioterapia, diversas radiografias que integraram as palestras de um dos maiores especialistas em tornozelos de São Paulo, além da volta para a escola apoiada uma bengala feita de segmentos de cabo de vassoura - mais um dos projetos do meu pai. Uma boa alma nos emprestou uma muleta de verdade alguns dias depois.

Bed of Roses, do Bon Jovi, era, naquele momento dos anos 90, um grande sucesso. Ironicamente, foi a trilha sonora desse tempo que passei na cama. Uma cama equipada com três listas telefônicas em cada pé para que a perna ficasse num nível mais alto que a cabeça. Exatamente o que o Bon Jovi tinha em mente.

E foi assim que a menina obediente que nunca tinha se acidentado conquistou uma bela história pra contar.

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