sábado, 27 de dezembro de 2008

A escolha profissional

Nos anos 90 já estava a todo vapor a disseminação da ideologia pró-globalização. As pressões por competência, informação, produtividade, mobilidade (...) eram constantes. O fantasma do desemprego estrutural estava sempre por perto, nas reportagens praticamente diárias sobre a dificuldade de todos (e mais especialemnte dos jovens) conseguirem seu primeiro emprego.

Não passei impune por tudo isso. Não passei impune principalmente pelo que meus pais pensavam sobre tudo isso.

Não cursei o colegial regular. Não achava meu colégio suficientemente bom e, por alguma razão, não quis mudar para outro. Neguei todos. 8 ou 80. Com o apoio do meu pai.

Além da decepção com o colégio, existia o contraste entre a infelicidade da minha mãe - pessoa de humanas - e a indisfarçável empolgação do meu pai - pessoa de exatas. Comprei a idéia de que, com o pacotinho correto (o das exatas), minha vida seria boa.

Nessa época, já tinha uma grande experiência em renunciar - a ponto de não reconhecer - meus próprios desejos. Aí entra o apoio da minha mãe (na realidade, estou falando aqui do incentivo ao subterfúgio de questionar e suprimir as próprias vontades, sugerido em tantas outras ocasiões).

Em função dessa escolha, desviei da rota que me seria mais natural e vaguei insatisfeita e incompleta por aí, por muito tempo.

A questão estaria melhor resolvida se as origens do pensamento que desembocaram na escolha equivocada estivessem superados. Se as armadilhas estivessem mapeadas e não houvesse mais nenhum perigo.

Mas sei que eu ainda sou essencialmente a mesma. Com essa habilidade extrema de me esconder de mim mesma para não deixar vir à tona que, na verdade, eu preferiria mesmo era tomar o caminho mais arriscado.

Sou assim e é isso que me deixa triste.

Um comentário:

Anônimo disse...

Não somos todos assim? Com medo de sair da zona de conforto, mesmo que um pouco incômoda, em vez de se jogar no desconhecido e arriscado?