domingo, 14 de dezembro de 2008

O preço da cantina

Apesar de entender menos sobre política e economia, eu me sentia mais ativa para interferir nessas questões do meu microcosmo, nos anos 90.

Nos anos 90, o McDonald's era o mais forte, quase exclusivo, negócio de fast food no Brasil. Ir ao McDonald's era programa resevado para dias especiais, na minha vida. Foi motivo de muita revolta descobrir que o preço do hamburguer da cantina da escola estava mais alto do que o preço pago no McDonald's pela mesma iguaria.

Organizei um movimento típico de Speaker's Corner, em Londres, em que pessoas comuns sobem em seus banquinhos e fazem seus discursos livremente para a multidão ouvir. Pesquisei todos os custos de um negócio como o McDonald's - valor do aluguel em shoppings, taxas de franquia, marketing, reforma... - e montei numa cartolina minha argumentação de ataque. Por uns 3 dias levei minha cartolina para a frente da cantina e falei com atendentes e clientes sobre o absurdo do preço do hamburguer. Até que o preço baixou.

Sei que conquistei a antipatia de muita gente com aquela petulância. Mas me sentia amparada pela democracia e dona de um orgulho infinito por mim mesma. Especialmente porque não foi fácil reunir coragem para começar com a falação. A cartolina voltou umas três vezes pra casa antes da primeira frase sair. Superação.

Segui pela vida com essa autovalorizada braveza por bastante tempo ainda. Só muito depois fui percebendo que outras estratégias também eram possíveis e algumas vezes até mais eficazes.

Ainda não cheguei ao ponto de entender completamente (e de atuar segundo) aquela frase do Mauro, meu facilitador de dinâmicas dos grupos, que uma vez disse para um colega: "fala pra ela [no caso, a mãe dele] que o afeto também é revolucionário".

Ainda sou guerreira. Mas agora um pouco mais macia, um pouco mais diplomática, um pouco mais política, um pouco mais em dúvida sobre se isso não é, também, ser um pouco mais passiva.

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