segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Avareza

A minha infância nunca foi repleta de brinquedos caros.

O piano citado anteriormente - em que eu supostamente deveria treinar - era emprestado e tinha um monte de teclas desencapadas (da época em que o coitado ficou encostado na marcenaria do dono que, por sua vez, herdou aquela coisa e nunca soube o que fazer com ela).

Com meu irmão, brincava de parque de diversões. Eu era "dona" de uma parte dos brinquedos e ele, de outra. O brinquedo mais disputado era o ônibus leito. Consistia em deitar num pedação de carpete (de forro, pra ser mais exata) e ser puxado em alta velocidade pela extensão da sala vazia (sim, quase não existiam móveis na sala naquela época).

Para brincar de casinha em dias de chuva, eu envergava um colchão e o colocava entre os batentes da porta (percebam a qualidade dos colchões de que dispunhamos naquele tempo). Parecia mais um iglu do que uma casinha.

Se tive muitas figurinhas, foi por ter conseguido rapelar tantas. Devo ter comprado uns 3 ou 4 envelopinhos em toda minha vida.

De forma que, no dia em que ganhei uma caixa de lápis de cor de 36 cores, ela se tornou a preciosidade da minha existência. Guardava num lugar secreto, tinha ciúmes, passava muito tempo ensaiando combinações de cores que nunca passavam para o papel, para não gastar.

Isso eu devo à minha avó. Guardar sempre as melhores coisas para estarem disponíveis nesse tempo que não existe e nunca existirá: o futuro. Assim me neguei muitos deleites na infância e na adolescência. Assim deixei de colorir muitos dos meus dias. Assim, assim.

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