terça-feira, 25 de novembro de 2008

Minha única medalha

Devem ter acontecido muitas coisas no mundo do esporte na década de 80. É claro, eu não sei precisar com certeza.

O Senna deve ter ganho muitos Grandes Prêmios. A Hortência do basquete provavelmente era uma celebridade na época. Talvez o Oscar também. Acho que o Vôlei ainda não era forte. Ou era?

Enquanto essas coisas aconteciam ou não aconteciam, eu... era sempre das últimas a serem escolhidas para os times na aula de educação física. Estamos falando daquela idade em que ser a mais alta corresponde necessariamente ser a mais estabanada. Na minha mão, a bola sempre tinha vida própria.

Só lembro de um lugar onde eu era feliz jogando bola: a Rua Bonfim, em Ribeirão Preto. Lá eu era líder de time na queimada. Para fugir da bola, eu era ótima! Parecia possuída!!! Me lembro de uma vez que saltei e abri um espacate no ar para deixar a bola passar. Foi a sensação do verão!

Em São Paulo, eu sempre ganhei medalhas que não me pertenciam (a não ser pelo pensamento positivo que eu possa, eventualmente, ter feito de lá do banco de reservas). Mas houve uma conquista na 3ª série que eu nunca vou esquecer. Foi assim:

Não havia mais ninguém, mais ninguém mesmo, que não tivesse sido escalado para outras modalidades. A regra era que todo mundo precisaria participar de, pelo menos, uma prova no campeonato. Pois bem, tive que ser a representante da classe na corrida de resistência.

Apesar de ninguém acreditar sinceramente de que daquela cartola sairia algum coelho, senti o peso da responsabilidade. Minha classe dependia de mim, numa prova individual.

Nesse dia, as torcidas ficaram dentro da quadra, enquanto nós corríamos do lado de fora do gradil. Ainda me lembro das pessoas me provocando, se reposicionando para nos ver melhor, se jogando contra a grade pra gritar qualquer coisa.

Eu larguei em último lugar e fui assim por um bom tempo. Foi bem chato quando eu, lá pelas tantas, quase morrendo, assisti a menina que estava em primeiro lugar me ultrapassar. Juliana, era o nome dela. Na minha memória, ela tinha um certo "quê" de Mick Jagger.

É claro que eu estava a um milímetro de desistir. Foi nessa hora que eu recinheci uma voz amiga que passou o restante da prova me acompanhando e me dizendo de dentro da grade: "mantenha o ritmo", "vai em frente", "respira", "a Juliana não vai aguentar por muito tempo".

E eis que, uma ou duas voltas depois, retomei com dignidade minha posição de último lugar. E logo mais, numa ultrapassagem que arrancou os gritos da torcida, fiquei à frente daquela que tinha estado em primeiro lugar durante boa parte da prova! E assim cruzei a linha de chegada.

Não conseguia acreditar! Minha turma comemorando de verdade meu segundo lugar!

Não me lembro qual foi a importância dessa pontuação para o compto geral do campeonato. Mas, para mim, isso siginificou receber a única medalha da qual eu realmente fiquei orgulhosa na vida.

Se bobear, até hoje, em momentos difíceis, quando estou prestes a desistir, ouço essa voz, no meio da gritaria, dizendo: "mantenha o ritmo", "vai em frente", "respira", "isso não vai adiante por muito tempo"...

Um comentário:

Kris Arruda disse...

Parabéns, minha única medalha foi por um feira de ciências....sem emoçao alguma...

Graças a Deus ganhei alguns troféus depois correndo de carro...