quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Construção

Minha casa foi construída com recursos do BNH (Banco Nacional da Habitação).

Antes, no terreno de 250m², comprado com a ajuda do meu avô, existia uma casa de pau a pique minúscula, cheia de buracos nas paredes.

Brinquei com meu irmão durante as várias fases de construção da casa: equilibrista na fase das fundações, Indiana Jones na fase do tijolo à vista, esconde-esconde na fase de acabamento.

O primeiro aniversário comemorado na nova casa foi o meu, aos 4 anos, ainda pisando no contrapiso. Alguns meses depois veio o inverno e, com ele, os carpetes.

Nosso quintal já sofreu muitas transformações. Houve um tempo em que tínhamos uma verdadeira fazenda em miniatura no fundo de casa: abacateiro, goiabeira, pessegueiro, pé de mixirica, limoeiro, milho, fruta do conde, canteiros com cenoura, alface, beterrada, além das ervas - salsinha, cebolinha, hortelã, alecrim, arruda, manjerição, novalgina, alfazema... - e das criação de galinhas, codornas e patos. Tínhamos também um cachorro, duas tartarugas, dois periquitos e três ramsters. Foi nessa época que a escolhinha do meu irmão promoveu uma excursão dos alunos do jardim II para a minha casa.

Também tivemos um parquinho com balaço, escorregador, gangorra e caixa de areia no fundo do quintal. Na parte cimentada, eu e meu irmão desenhávamos ruas e cruzamentos para andar de bicicleta em alta velocidade. Jogávamos vôlei, futebol, basquete...

Estou lembrando agora de mais uma invenção do meu pai: uma forma de prender o cachorro de forma que pudesse correr de um lado para o outro. A corrente do cachorro não era presa num ponto fixo. Ela corria ao longo de um fio de arame bem grosso fixado no chão, rente ao muro, de fora a fora. Era gostoso ouvir aquele barulho e saber que o Sansão estava por ali...

Durante a década de 80, no período de crise mais grave, muita gente não conseguiu pagar as prestações do financiamento e quase perdeu a casa. A gente estava nessa lista.

Graças a um erro do governo da época na proposição de um acordo, aliado à agilidade dos meus pais e à valiosa orientação de uma amiga da família que trabalhava na Caixa Econômica Federal, conseguimos dar entrada na papelada no único dia em que a possibilidade desse acordo vigorou. Voltamos a pagar as prestações e, alguns anos depois, quitamos a dívida.

Minha avó - que mora hoje numa casa construída no fundo do quintal que abriga tantas memórias (aproveito para desafiar meus leitores a adivinharem quem projetou essa casa tão bem resolvida em termos de aproveitamento de espaço, iluminação e ventilação) - afirma que foi um ritual de despedida para os antigos moradores daquele terreno, envolvendo xaxim e queimas, que abriu os caminhos para a consolidação dessa conquista.

Quem sou eu pra duvidar? Agradeço profundamente, a todos os viventes e não viventes, pela graça alcançada.

Um comentário:

Anônimo disse...

Até eu fiquei com vontade de excursionar pra esse quintal...que delícia crescer num lugar assim! E ainda dizem que as crianças de SP não têm infância...