sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Trajetos e destinos

Nos anos 80 ainda não havia acontecido a grande abertura promovida por Fernando Collor de Mello que, apesar de toda a bagunça que fez com a ajuda de Zélia Cardoso, Cabral e companhia (assunto para posts do próximo mês), tinha certa razão a respeito de nossos carros serem carroças.

Peguei uma lista de carros dos anos 80 num blog alheio para nos lembrarmos de quem povoava nossas ruas, naquela época: Fiat 147, Brasília, Corcel, Fusca, Belina, Chevette, Passat, Variant, Opala, Maverick, Landau, Galaxie, Caravan, Gol, Voyage, Parati, Saveiro, Santana, Quantum, Del Rey, Pampa, Escort, Spazio, Oggi, Panorama, Uno, Prêmio, Elba, Fiorino, Marajó, Monza, Chevy 500, Kadett, etc.

Lá pela minha garagem passaram: uma Panorama 1979, da qual eu gostava porque tinha nascido junto comigo; uma Belina de placa 1910, que eu gostava porque era o ano em que meu avô nasceu; um Fusca verde, que eu gostava porque era do meu outro avô e a gente achava bem engraçado que ele buzinava em todas as esquinas; um Gol que ficou pouco tempo, logo substituído por um Voyage num negócio memorável para toda a família, envolvendo uma linha telefônica que subiu demais de preço (!?!?!?) e nos deixou numa sinuca desgraçada; e, finalmente, um Prêmio que ficou pra mim quando aprendi a dirigir (chegando à minha mão, acreditem se quiser, com 180.000 quilômetros rodados).

Me concentrando na parte que se refere aos anos 80, carros fizeram parte da minha vida principalmente para me levarem à escola, em esquema de rodízio com os filhos de uma amiga da minha mãe. Sempre estudamos bem longe de casa. Minha mãe, como excelente professora que era, nos colocou em colégios ótimos, mais caros do que podíamos pagar e bem distantes de onde morávamos. E era durante essas viagens que tínhamos as maiores oportunidades de conversar com nossos pais - coisa que eles também sabiam e aproveitavam pra valer.

Na volta pra casa, meu pai nos ensinou a nos perdermos pela cidade. Isso mesmo. Lá pelas tantas ele perguntava pra criançada: "Vamos se perder?". A torcida ia ao delírio!!! Passávamos por lugares nunca antes navegados. Eu adorava, especialmente quando era sexta-feira, dia do meu Piano. Guardava sempre aquela esperança íntima de passássemos bastante tempo perdidos...

Fora isso, tinha aquela coisa que toda criança faz: ficar amigo do motorista do carro de trás, dar tchauzinho, fazer aquele "jóinha alternado com o número dois vária vezes", brincar de tiroteio e, invariavelmente, ficar triste quando o amigo vira à direita e seu carro continua em frente.

Carro é, até hoje, por esses e por outros motivos, um lugar onde eu gosto de estar. Isso independe de que carro seja. Independe de pra onde o carro vá (acontece muito de eu me sentir mais feliz nos trajetos do que nos destinos).

Estar num carro, especialmente com companhia, me dá uma agradável sensação de pertencer.

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