quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

ECA-USP

Nos anos 90, a Universidade de São Paulo já não era mais a mesma (e a gente viveu um pouco de seu sucateamento).

Na minha primeira semana de ECA fui parar no jornal. Não estávamos tendo aulas por falta de professores e eu sou toda esquentadinha com essas coisas de "direitos". Fiz protesto, fui entrevistada e meu depoimento foi publicado no Zap, do Estadão.

Continuei esperneando durante o restante do curso, pois as decepções vinham de baciada. Isso que dá ser uma pessoa ávida por conhecimento matriculada num curso picareta. Se deu melhor quem gostava de cerveja...

Mas fiz algumas coisas interessantes: li um texto do Baktin que mudou a minha vida, fizemos uma pesquisa bem interessante sobre gôndolas de supermercados, analisamos um artigo de jornal buscando elementos de persuasão, fiz um retrato cubista dos pontos de ônibus da cidade universitária, escrevi um outro final para um conto do Guimarães me esforçando para utilizar a mesma linguagem dele.

Também fizemos uma campanha contra o trote violento que fortaleceu laços de amizade absolutamente essenciais para mim até hoje. Por causa dela, mais 15 minutos de fama numa entrevista memorável dada à CBN e à Band (nessa última, se não me engano, foi que coloquei o entrevistador "em seu devido lugar"). Eu era braba...

E minha apresentação do TCC confirmou isso. Tentei ser polida, mas não deixei de falar para um dos caras mais respeitados da minha banca que ele não tinha lido meu trabalho direito pra me fazer uma pergunta daquelas. Naquela ocasião, meu orientador confessou que dava um certo medo de mim, quando eu resolvia encrencar com alguma coisa.

Com o tempo eu fui ficando mais macia. Uma grande amiga minha diz que a maneira como a pessoa se relaciona com o mundo é reflexo da maneira como se relaciona consigo mesma.

De fato: foram acontecimentos da década seguinte que me fizeram olhar para a vida de uma forma mais maleável.

Na época da faculdade eu ainda não tinha percebido o quanto era refém de mim mesma.

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