quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Arquétipos

Ontem fiz um teste ergométrico. Teste chato, baseado no limite do esforço e do cansaço do paciente. Fiquei com a impressão de ter pedido pra parar um pouco antes do que poderia. Saí do laboratório com a forte idéia de que tenho pouca tolerância ao esforço.

Também me lembrei de ter chegado à conclusão de que tenho pouca tolerância à dor. É só ficar um com uma dorzinha de barriga que já começo a achar que sou a criatura mais infeliz e injustiçada do planeta.

A junção dessas duas características faria de mim, no mínimo, uma pessoa mimada e nojenta - perfil no qual eu absolutamente não me reconheço. Meu querido marido foi o responsável por jogar uma importante luz nessa questão.

Ele me lembrou que (um dia vou falar sobre a minha memória seletiva - que funciona que é uma beleza!!!) sou incansável e inabalável, dependendo do motivo pelo qual estou agindo. Me deu alguns exemplos e pelo processo dialético - tese, antítese e síntese - cheguei a uma nova e esclarecedora teoria.

Meu pensamento funciona por arquétipos. Se o sofrimento em questão pertence à constelação semântica do "Guerreiro", do "Mártir", do "Estadista", do "Revolucionário", então ele adquire status de totalmente aceitável e suportável. Se, pelo contrário, o sofrimento tem ares de "submisso", "escravo", "subjulgado", "judiado", então pra mim é impossível sequer pensar em conviver com ele. Muitas pessoas já me alertaram para certos pensamentos 8 ou 80 que costumo ter. Alertas que eu sempre tratei de forma 8 ou 80.

Sempre achei muito nobres e cheios de dignidade os arquétipos da primeira lista. Mas essas pessoas imaginárias são umas completas incompetentes em áreas que eu tenho tentado fortalecer. Aqui temos uma mudança importante: o valor que dou a minhas antigas referências mudou.

Agora, falando sobre o processo de pensamento em si: é um erro transformar todas as situações reais - com seus cinzas, nuances e misturas - em situações arquetípicas - puras, maniqueístas, simples de julgar. Irreais, em resumo. (justiça seja feita: a cada afirmação que faço, vêm como acompanhamentos 2 ou 3 ressalvas e/ou atenuantes, o que diminui a característica maniqueísta original).

Mas, querem saber a verdade? É só dar a entender que pretendo abandonar essa forma de pensar que já começo a sentir saudades. Vocês conseguem imaginar o que é ter sempre uma peça em cartaz dentro da cabeça? Metáforas, Dramas, Romances, Comédias, Aventuras, Ação!

Tudo isso me lembra uma propaganda do Free - só ele é assim - em que uma moça-artista (com latas de tinta colorida) ia e voltava num enorme balanço pendurado no teto. Cada um na sua, mas com alguma coisa em comum.

Talvez eu tenha sido feita pra não crescer.

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